Dizia Millôr que os fatos não tinham a menor importância, e sim sua interpretação dialética. Acho hoje que estamos chegando a considerar como verdade absoluta o que seria uma brincadeira do humorista apenas para provocar a esquerda. Veja que no futebol, base do nosso entendimento filosófico, pênalti, banheira e etc já são consideradas questões de interpretação da arbitragem. Até o moderno tira-teima está resignado. Daí em diante tudo está sendo incluído. E o sentido cada vez mais amplo que damos à “interpretação dialética” faz dos fatos meros acontecimentos.
Roubo, como mensalão, Cachoeira e outros, antigamente era desapropriação da burguesia. Hoje deve ser uma ficção criada pela imprensa irresponsável ou ligada às elites. Também o linchamento público promovido contra adversários não leva em consideração qualquer fundo de verdade. Ouvi dizer que existem até “escritórios de maldades” que trabalham esse novo fenômeno. Criando versões demolidoras. Acontecimentos tenebrosos envolvendo desafetos. Manipulando a opinião pública.Mas o brasileiro é mestre em sair dessas armadilhas. Tenho visto uma reação aqui e ali, que desmoraliza toda panaceia. Estamos desenvolvendo um descrédito sistemático a qualquer tipo de informação. Uma falta, por mais grave que seja, é vista com desconfiança. “Não estou nem aí”, e saem dando com os ombros como que para sua vida isso não tivesse a menor importância. É o que estão conseguindo. Uma nação indiferente. Um povo descrente de toda institucionalidade.
E é nisso que acredito. Nessa nossa capacidade de optar sempre pela vida. Sobrevivendo às adversidades com um dane-se na boca e uma disposição de buscar sempre o futuro. Diferente de outros povos, que preferem a depressão e a convulsão social.
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