O sentido de urgência com as mudanças climáticas deve ser cultivado em todas as áreas. A questão do clima mudou de patamar, já que o desafio de conhecer transformou-se no desafio de por em prática ações concretas em favor da redução de emissões de gases de efeito estufa. Já não é preciso tanto entendimento sobre o problema, uma vez que já sabemos que devemos desenvolver, gerar emprego e crescer em taxas modestas e seguras, respeitando os limites do planeta.
“A motivação ambiental não é mais por vantagens, trata-se de um imperativo de consciência, uma questão moral”. Foi este o apelo que ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dirigiu aos participantes do Fórum Mundial de Sustentabilidade, em sua palestra, ontem (23), em Manaus (AM).
O ex-presidente defendeu a execução de um projeto nacional de redução de consumo e busca de matriz energética sustentável, para uma economia de baixo carbono. “Os partidos devem colocar as questões ambientais como bandeira”, disse Fernando Henrique.
Para o sociólogo, é fundamental não perdermos o foco e manter a questão de combate a pobreza relacionada às mudanças climáticas, uma vez que serão os pobres as pessoas mais atingidas pelos desastres ambientais. Fernando Henrique finalizou sua palestra dizendo que o Brasil não deve se preocupar em crescer a taxas chinesas, já que a média brasileira de crescimento nos últimos anos foi de 4%, mas com enorme efeito interno, de crescimento com qualidade.
O deputado federal José Sarney Filho (PV/MA) quis saber do ex-presidente se o retrocesso na legislação ambiental que se avizinha com a aprovação do Código Florestal não prejudicará a liderança do Brasil no combate às mudanças climáticas e na Rio+20. Fernando Henrique, mesmo com cautela, mostrou-se preocupado com os rumos do debate no Congresso e defendeu a necessidade de manter a rigidez da legislação ambiental brasileira.
Por sua vez, o ex-primeiro ministro da França, Dominique de Villepin, afirmou que a economia verde não pode ser vista como restrições, mas sim com o propósito de desafios para inovação tecnológica. Segundo ele, três ações são prioritárias: planejamento urbano, energia sustentável e segurança alimentar. “O meio ambiente está no centro do nosso futuro”, concluiu. Para de Villepin, a União Européia avançou muito em legislação ambiental, mas ainda tem de fazer mais. Ele enfatizou a necessidade de se estabelecer regras claras sobre o uso dos recursos naturais e defendeu a criação de um organismo mundial para o clima.
‘Desmatamento zero’ é a campanha que Kumi Naidoo, executivo do Greenpeace, apresentou e pediu compromisso dos dirigentes empresariais brasileiros. Roberto Rodrigues, ex-ministro brasileiro da Agricultura aceitou o apelo de Kumi, mas se for excluído bioma Cerrado pois, segundo Rodrigues, a agricultura e pecuária brasileira foi a que mais cresceu no mundo e ainda precisará do Cerrado para continuar avançando. O ex-Ministro defendeu o texto de Aldo Rebelo como ideal para as mudanças no Código Florestal, posição que encontrou discordância de membros do LIDE, expressadas por Roberto Klabin.
Os oceanos, os ecossistemas marinhos e costeiros ameaçados pela pesca predatória, exploração de petróleo e mudanças climáticas formou o penúltimo painel do último dia de debates, com a presença da oceanógrafa e exploradora em residência da National Geographic Society, Sylvia Earle; do biólogo e professor do Instituto Oceanográfico da USP, Alexandre Turra; do presidente do LIDE sustentabilidade e da SOS Mata Atlântica, Roberto Klabin e do deputado federal e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputado, Sarney Filho.
Sylvia falou do extermínio das espécies marinhas, dizendo que cada animal tem sua importância para a manutenção da biodiversidade. “Mantemos uma relação de individualidade com gatos e cães, mas tratamos os peixes por quilos ou toneladas e isto não provoca os nossos sentimentos, afetos ou paixões, dificultando a defesa destas espécies tão importantes para a vida no planeta”, enfatizou.
Depois de viajar por dez dias pelo Pará e Rondônia, Bianca Jagger, no encerramento do evento, falou sobre o impacto que as barragens de Belo Monte e Madeira podem provocar nas comunidades ribeirinhas e tribos indígenas. Ela disse que não veio criticar as decisões do governo brasileiro, mas alertou que “os projetos afetarão de maneira irreversível a vida dessas comunidades e o ecossistema da região.”
O Fórum Mundial de Sustentabilidade aprovou a Carta do Amazonas, com dez pontos.
CARTA DO AMAZONAS
Neste ano de 2012, em que a atenção do planeta está focada no Brasil devido à Rio+20, o LIDE firma o compromisso de mobilizar a sociedade brasileira pela aprovação de uma legislação nacional de pagamentos por serviços ambientais, reconhecendo este mecanismo como fundamental para garantir o desenvolvimento sustentável. Destacamos também, através do FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE, outros temas que merecem especial atenção da sociedade brasileira e mundial. São eles:
1 – A aprovação de um acordo internacional para implementar o REDD+ como mecanismo de conservação das florestas nativas.
2 – Estabelecimento de metas para a universalização do acesso à energia limpa até o ano de 2030.
3 – O apoio à maior cooperação Sul-Sul, na base de benefícios mútuos que não repitam os erros cometidos no passado.
4 – A importância de repensar as estruturas atuais da ONU para aumentar a eficácia dos processos de governança internacional.
5 – A formulação de um programa de governança dos oceanos, que permita a conservação e recuperação dos ecossistemas marinhos e estoques pesqueiros, incluindo a criação de áreas marinhas protegidas em águas territoriais nacionais e internacionais.
6 – O reconhecimento de que a atmosfera é um bem comum, compartilhado por todos, e cuja contaminação por gases do efeito estufa e outros poluentes precisa ser drasticamente reduzida, através de um cronograma mundial de metas firmes e compatíveis com a ciência.
7 – O desenvolvimento de uma plataforma ambiental a nível municipal como prioridade, que explicite compromissos a serem assumidos por governantes locais, com especial atenção à universalização do saneamento básico, ao incentivo à construção sustentável e à promoção da educação ambiental e do consumo consciente.
8 – A regulamentação e efetivo cumprimento do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, dando atenção à possibilidade de geração de empregos, através da valorização da cadeia de reciclagem do PET.
9 – O uso das cadeias de valor de produtos da floresta para promover o comércio justo e o desenvolvimento sustentável na base da economia.
10 – A incorporação clara e explícita nas metas de desenvolvimento e respeito aos direitos de futuras gerações a um meio ambiente mais limpo e sadio.
Manaus, 24 de Março de 2012.
Fonte : Blog da FVHD