O Partido Verde entrevista o médico sanitarista, um dos criadores do SUS, ex-secretário de Saúde de São Paulo/SP e membro da Executiva Nacional do PV, Eduardo Jorge
No Dia Mundial da Saúde, em meio a uma pandemia, que já dura meses e tomou o mundo, esta data assume contornos diferentes. No Brasil, já são mais de 2 milhões de infectados e segue para 100 mil morte. Mas diferentemente da maior parte dos países do mundo, o Brasil tem um Sistema Único de Saúde (SUS) que atende toda a população de forma gratuita. “O Brasil é um dos únicos países do mundo que tem o SUS. Isso garante um atendimento a toda a população e, principalmente, aos mais pobres”, afirma o médico sanitarista, um dos criadores do SUS, e membro da Executiva Nacional do PV, Eduardo Jorge.
O dirigente verde é categórico quanto a importância do Sistema para a população brasileira. “O SUS é a maior reforma social já feita no País após a redemocratização. É a maior política pública social e já trouxe considerável melhoria da qualidade de vida para o povo nessas três décadas”, declara.
“Só analisar como evoluíram positivamente os Índice de Desenvolvimento Humano [IDH]. Têm programas extraordinários, exemplo mundial, tanto na atenção básica como o programa de vacinação, o maior do mundo, quanto na atenção de alta tecnologia, o SUS é responsável por 99% dos transplantes [de órgãos] do País e o segundo no mundo”, explica o médico.
O médico também foi secretário Municipal de Saúde, São Paulo/SP, entre 1989 e 1990, por isso, é especialista na atuação do SUS nos níveis da administração pública. “O SUS é um sistema de colaboração entre três instâncias nacionais: federal, estadual e municipal. E depende de um bom entrosamento entre os três níveis para funcionar adequadamente”, relata.
Jorge conta que com o passar dos anos o governo federal retirou dinheiro do Sistema, precarizando o atendimento e o alcance a toda a população. “No início, da implantação do SUS, na década de 1990 do século XX, o governo federal respondia por 55% do orçamento total e 45% vinha do orçamentos estaduais e municipais. Hoje, essa corrosão aconteceu durante todos os anos do século XXI, o governo federal ficou responsável por 43% do orçamento e os estados e municípios 57%”, analisa.
Para o sanitarista, essa falta de investimento reflete na percepção da população quanto ao desmonte do SUS que prejudicou o atendimento. “No entanto, realmente, falta muito o que fazer. Por isso, não deixam de ser justas as reclamações do povo de insuficiência no Sistema. E a principal responsabilidade por essa deficiência, é o subfinanciamento do Sistema”, esclarece.
Mas mesmo com todas as dificuldade, de acordo com Jorge, o SUS consegue atender todo o País por um preço baixo. “O Brasil gasta cerca de R$3,00 [três reais] por dia, por pessoa, para viabilizar o Sistema do Amazonas ao Rio Grande do Sul. É o milagre da multiplicação dos pães e peixes diariamente”, diz.
Jorge avalia a atual situação do País como desastrosa no que tange as ações, ou falta delas, do governo federal em relação ao combate do coronavírus. Contudo, o dirigente verde chama a atenção para a atuação importante dos estados e municípios. “No caso da pandemia, a nível federal, fracassou miseravelmente. Felizmente, os estados e municípios assumiram sozinhos a responsabilidade. Na verdade, o número de mortes que se aproxima de 100 mil, poderia ter sido menor, caso o governo federal e, principalmente, o presidente, não sabotasse as orientações das autoridades sanitárias do País”, afirma.
“Brasília está devendo ao SUS”, protesta o médico.