Série histórica do Datafolha em pleitos anteriores mostra que Huck e Barbosa, ao abrirem mão de disputa, estão seguindo padrão rotineiro
A desistência de nomes bem colocados em pesquisas eleitorais para a sucessão presidencial, como Luciano Huck e Joaquim Barbosa, causa surpresa, mas não é um fenômeno atípico nas eleições brasileiras nas últimas três décadas.
Como mostra a série histórica do Datafolha, desde a redemocratização, em média um terço dos principais cotados ao Palácio do Planalto abriu mão da candidatura nos seis meses que antecedem a eleição.
O “efeito peneira” deve-se à falta de respaldo eleitoral, problemas de saúde ou familiar, apoio a outras candidaturas ou derrota em disputas internas. Isso sem contar as candidaturas lançadas apenas para aumentar o valor do passe de partidos medianos.
Neste ano, se confirmado o retrospecto eleitoral, o processo se repetirá com um afunilamento das candidaturas. Atualmente, segundo pesquisa feita em abril, há 18 nomes que se identificam como pré-candidatos presidenciais.
A tendência é de que ocorram baixas como as possíveis desistências de Michel Temer (MDB), Rodrigo Maia (DEM) e Guilherme Afif Domingos(PSD), por exemplo.
Na semana passada, Barbosa (PSB) anunciou por uma rede social que não disputaria a eleição, alegando “decisão estritamente pessoal”.
Ainda no final de 2017, Huck, assediado por siglas como PPS e DEM,disse que um dos fatores para não encarar a disputa foi a violência do escrutínio público.
A maior parcela de recuos na série histórica ocorreu em 2002, quando metade dos cotados no início de abril daquele ano acabou não saindo candidato. A menor parcela foi em 1998, quando apenas Levy Fidelix, do PRTB, não participou, ao fim, da disputa eleitoral.
Em 2002, surgiram nas pesquisas, mas não foram candidatos, Roseana Sarney, Itamar Franco e Tasso Jereissatti. Então no PFL, a filha do ex-presidente José Sarney saiu do páreo em abril daquele ano após ação da Polícia Federal em uma empresa de sua propriedade.
Sob pressão de seus partidos, Itamar (PMDB) e Jereissati (PSDB) abriram mão do processo. Eles apoiaram, respectivamente, as candidaturas de José Serra, do PSDB, e de Ciro Gomes, então do PPS.
Na eleição seguinte, Anthony Garotinho, então no PMDB, não chegou às urnas, apesar de figurar em terceiro lugar no Datafolha em abril de 2006. A ala governista do partido, liderada por Michel Temer, conseguiu rifá-lo para apoiar a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em 2010, o PSB desistiu, em abril daquele ano, de lançar a candidatura própria de Ciro Gomes, para apoiar Dilma Rousseff (PT). Ele figurava, na época, em quarto lugar na pesquisa eleitoral. A decisão facilitou apoios estaduais do PT a candidatos do PSB, sobretudo no Nordeste.
Neste ano, com uma campanha mais curta, já que começa apenas em agosto, as alianças devem se formar mais tarde e candidaturas inviáveis se arrastarão por mais tempo, mesmo consumindo recursos dos partidos.
O DEM, por exemplo, estima gastar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão na pré-campanha de Rodrigo Maia (RJ), que patina no 1% de intenções de voto no Datafolha.
Além de fazer palanque para candidatos da legenda pelo país, Maia busca fortalecer seu nome para tentar se reeleger presidente da Câmara no ano que vem e aumenta o capital político do Democratas para barganhar espaço numa chapa mais viável.
O presidente da legenda, ACM Neto (BA), mantém o discurso oficial de que Maia pode crescer nas pesquisas.
“Investimos porque temos confiança na viabilidade da candidatura dele, assim como é o principal vocalizador da mensagem do partido”, afirma Neto.
Único pré-candidato disposto a defender a gestão Michel Temer —além do próprio presidente, claro—, Henrique Meirelles (MDB) tem feito campanha com recursos próprios. Ele diz não saber o quanto já gastou com viagens e montagem de equipe de comunicação.
Foi justamente por poder se autofinanciar que o ex-ministro da Fazenda conquistou o comando do partido e conseguiu se colocar como pré-candidato.
“Tenho uma pré-candidatura visando ser o candidato do MDB e ganhar a eleição. Só isso”, diz Meirelles, que, não conseguindo chegar ao Palácio do Planalto, quer voltar à iniciativa privada.
Presidente do Novo, Moisés Jardim diz que o investimento do partido é de R$ 70 mil a R$ 80 mil por mês, não apenas na pré-candidatura presidencial de João Amoedo, mas na divulgação da legenda, principalmente por redes sociais.
“A ideia é ir até o fim até porque entendemos que esta candidatura à Presidência da República tem relevância muito grande por personificar nossas ideias. Ela nos ajuda também num outro plano que temos, que é eleger uma bancada de deputados”, diz Jardim.
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Foto: Keiny Andrade – 10 de abri.17/Folhapress
Fonte: Folha de São Paulo