Laboratório do Rio recebeu em janeiro número recorde de animais mortos. Macacos se contaminam e ajudam a identificar onde há transmissão.
A preocupação com a febre amarela e a desinformação estão levando pessoas a um crime: elas matam macacos. É um animal que não transmite a doença e que é importantíssimo para as autoridades sanitárias.
O filhote está se recuperando depois se ser apedrejado. A mãe não resistiu. Desde o fim de 2017, 13 macacos que sofreram algum tipo de violência chegaram ao Parque Ecológico de São Carlos, no interior de São Paulo. Cinco morreram. E tem sido assim em várias partes do Brasil, desde que os casos de febre amarela aumentaram.
Todos os macacos encontrados mortos no estado do Rio vão para um laboratório que é referência na investigação de doenças em animais. Só no mês de janeiro, os pesquisadores já examinaram mais de 130 macacos, um recorde de 60 anos do laboratório. O mais triste é que, de cada dez casos, sete são de animais mortos por pedradas, pauladas, envenenamentos e queimaduras.
“Trabalho há 22 anos como médica veterinária e 15 anos dentro deste hospital veterinário. E eu nunca vi na história deste hospital uma violência, tamanha violência, contra uma espécie como nós estamos vivendo hoje aqui”, disse Márcia Rolim, subsecretária de Vigilância Sanitária e Controle de Zoonoses do Rio.
Além dos saguis, espécies ameaçadas de extinção, como bugios e até micos-leões-dourados, estão sendo alvo de ataques. Mas os especialistas alertam: os macacos não transmitem a febre amarela; são tão vítimas da doença quanto nós.
Em áreas de mata, o vírus é transmitido pelos mosquitos hemagogus e sabethes, que vivem nas copas das árvores, e preferem o sangue dos macacos. Mas quando esses animais são mortos, as fêmeas podem voar mais baixo e mais longe para buscar o sangue humano.
Os macacos ainda são aliados no combate à doença, porque quando um deles é encontrado com febre amarela numa floresta ou parque, por exemplo, isso é um sinal para as autoridades, que podem isolar a área ou liberar o acesso só para quem foi vacinado.
“Os macacos mortos vão ter que ser investigados quanto à fonte de infecção, do que eles morreram, e vai sobrecarregar o sistema de diagnóstico nos laboratórios, que são os mesmos laboratórios de diagnóstico dos humanos e dos macacos que de fato estão com febre amarela”, explicou Ricardo Lourenço, pesquisador do instituto Oswaldo Cruz.
A situação é tão grave que pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz estão em campanha nas redes sociais. “Nós não vamos nos proteger matando macacos. Os macacos são vítimas da infecção e nos ajudam a identificar onde há transmissão de fato. Então nós não temos que matar macaco. Matar macaco não serve para absolutamente nada”, afirmou Ricardo Lourenço.
Matar ou agredir macacos – ou qualquer animal silvestre – é crime ambiental, com pena de até um ano de prisão e multa. A página do Jornal Nacional na internet mostra como denunciaresse crime.
Fonte: Jornal Nacional