Artigo do Deputado Federal Luiz Bassuma (BA), recém-filiado ao Partido Verde:
Precisamos diferenciar um processo político natural de um fenômeno político, o primeiro lógico e esperado. O segundo, sempre surpreendente para a grande maioria das pessoas.
Os processos naturais são de fácil percepção e explicação, pois resultam da acumulação de forças materiais, ao longo do tempo. Já os fenômenos políticos quase nunca são percebidos enquanto estão acontecendo. Suas causas e seus elementos de formação não seguem nenhuma lógica previamente conhecida e sempre são mais espirituais que materiais funcionando como uma ONDA.
Em nossa recente história republicana, a ditadura militar período mais triste e violento de interrupção da democracia que perdurou entre 1964 e 1985, forças conservadoras organizadas na ARENA se locupletaram política e economicamente das benesses do poder, fechando os olhos para as torturas, exílios, prisões e mortes políticas do regime militar.
Em contraposição a este agrupamento de direita que depois passaria a usar a siglas PDS e PFL, políticos favoráveis à democracia tiveram que se reunir em torno do MDB para lutar, pacificamente, pelo fim da ditadura e o retorno à normalidade do estado de direito.
Ocorre então um destes fenômenos que se comportam como uma ONDA. Em 1986, ainda sem eleição direta para Presidente da República, o agora PMDB consegue eleger todos os governadores do Brasil, com exceção de Sergipe. Na Bahia foi eleito Waldir Pires quebrando um ciclo de poder da direita comandado por Antônio Carlos Magalhães durante mais de 20 anos.
Em 1989, na primeira eleição presidencial, o PT, criado em 1980 ainda era um partido muito pequeno se comparado ao PMDB, mas quase consegue eleger LULA que perde para Collor no 2º turno por diferença de apenas 4% dos votos.
O PMDB passa por um processo acelerado de descaracterização como partido de mudanças com dissidências que levam ao surgimento de um novo partido de centro o PSDB. Mas é o PT que passa a ocupar o espaço deixado pelo velho MDB, empunhando firmemente a bandeira de duas UTOPIAS: ética na política e coerência de princípios.
Em 2002 acontece mais um fenômeno, a chamada ONDA VERMELHA que elege LULA presidente, vários governadores, senadores e a maior bancada de deputados federais do Congresso. Assim como o PMDB, o PT a partir daí começa a se descaracterizar como partido comprometido com mudanças estruturais, acomodando-se ao velho e arcaico sistema sustentado pelas oligarquias brasileiras. Começam a sair de partido, importantes lideranças, como a senadora Heloisa Helena que funda um novo partido, o PSOL.
Vem depois o deprimente episódio do mensalão em 2005, expondo as vísceras de um pequeno grupo de pessoas influentes no partido, comandadas por José Dirceu, alguns dos sinais visíveis desta acelerada descaracterização.
Um dos preços que o sistema exigiu para que Lula continuasse realizando um bom governo e conquistando um nível de popularidade inédito na história brasileira e quem sabe mundial foi a destruição do seu próprio partido o PT preferindo a aliança com o PMDB de José Sarney, um dos últimos coronéis remanescentes da velha ARENA. Exemplo mais recente deste processo de envelhecimento precoce foi a atitude patética do Senador Aloísio Mercadante eleito com 10 milhões de votos em São Paulo ao anunciar da tribuna do Senado sua saída irrevogável da liderança do partido num dia e voltar atrás no outro dia depois de ler uma cartinha enviada por Lula, pedindo a sustentação de Sarney.
É inquestionável que Lula faz um bom governo, mas poderia fazer muito mais.
Ao tentar justificar a inaceitável aliança com Collor, Sarney, Renan, Barbalho e Maluf usa uma de suas metáforas mais infelizes ao dizer, que se Jesus governasse o Brasil e Judas tivesse votos, ambos teriam que fazer uma aliança para gorvernar.
O PT hoje foi rebaixado ao nível dos demais partidos que existem apenas como instrumento da conquista do poder pelo poder. Perdeu sua alma, apequenou-se na lógica dos acordos espúrios e dos negócios escusos onde a ética foi jogada no lixo. Assim como FHC fracassou, refém de sua vaidade, Lula também está fracassando como líder de uma nação que espera por sua libertação do câncer da corrupção.
O Brasil tem missão planetária a cumprir neste século XXI. Por suas inesgotáveis riquezas naturais e energéticas e pelas características especiais de seu povo, precisa funcionar como a primeira superpotência da história da humanidade a não explorar os mais pobres e mais fracos e sim ajudá-los em seu desenvolvimento, começando pela América Latina e continuando no continente Africano.
Surge então Marina Silva, preparada pela vida para exercer seu papel na história com humildade, inteligência, sensibilidade e determinação. Tem o perfil de líder da nova era do desenvolvimento sustentável onde mais importante que o PIB é a qualidade de vida das pessoas.
O Partido Verde durante décadas foi visto com muita simpatia pela sociedade, mais como uma ONG do que como um partido político. Depois de um século de abuso do sistema capitalista que em nome de um consumismo desenfreado agrediu, poluiu e destruiu a natureza, esta sociedade começa a sentir os efeitos desta insanidade com o aquecimento global.
Isto passa a pautar a na agenda mundial como prioridade máxima, como construção de acordos para redução da emissão de CO2, evitando catástrofes climáticas já anunciadas. Tal desafio coloca o Partido Verde como alternativa concreta de poder no Brasil.
Parte expressiva da nossa sociedade frustrada com a grande maioria dos políticos, não deseja renunciar aos seus sonhos e abandonar a maior das utopias que idealiza um mundo bem melhor e mais justo que este.
A responsabilidade com o futuro do planeta e da própria humanidade exige muita ousadia para enfrentar um sistema velho, ainda forte, mas em decadência acelerada.
Numa das mais belas músicas brasileiras, intitulada “Tente Outra Vez”, Raul Seixas canta num de seus versos que “basta ser sincero e desejar profundo; você será capaz de sacudir o mundo”.
A utopia suplantará a máquina. O jardim substituirá o deserto. Uma onda verde começa a surgir no horizonte e pacificamente convida homens e mulheres de boa vontade a se levantar, pois como toda onda transformadora crescerá e arrastará consigo tudo aquilo que se opõe ao BEM e à VERDADE.
Não temos mais tempo a perder e nem o direito de cometer o pior dos erros, o da OMISSÃO.