Da InterJornal:
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) em iniciativa corajosa e rara na política fez “auto-denúncia”, divulgando espontâneamente que usou cotas de passagens a familiares (uma ou duas passagens internacionais). Pelas regras atuais da Câmara o fato não caracterizaria ilegalidade, já que é uma prática corrente há anos. Mas para Gabeira, que tem a ética como uma das principais bandeiras, o caso se tornou simbólico e incômodo. Não se escondeu. Assumiu o erro, anunciou o fato a toda a imprensa e hoje fará pronunciamento em Brasília, propondo transparência e maior rigor no controle dos gastos dos parlamentares. Terá a oportunidade de mostrar seu caráter sob bombardeios e incompreensões. Tem crédito para ser ouvido.
Veja trechos de algumas publicações de hoje (22/04) sobre o assunto:
O GLOBO – RJ
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O deputado reconheceu o desgaste do Parlamento com o escândalo da farra das passagens, mas disse ver aspectos saudáveis na crise, como colocar em xeque a visão patrimonialista dos políticos e da sociedade brasileira e ainda reforçar a ideia de que o melhor caminho é a transparência da atividade pública: — Minha decisão é para me permitir dignidade para exigir da Câmara um ajuste de conduta. Eu estou plenamente integrado a esse ajuste de conduta. Se não conseguir, abandono a política. Termino meu mandato e não volto mais.
Gabeira concorreu ano passado à prefeitura do Rio e sempre defendeu a bandeira da ética na política. Sobre a farra das passagens, publicou em seu site o seguinte: “Desta vez, não somos aqueles que não erraram contra os que erraram. Todos nós erramos ao longo desses anos, porque consideramos a cota de passagens como propriedade nossa, embarcando na grande ilusão cultural brasileira que confunde o público com o privado”.
VALOR ECONÔMICO – SP – Rosângela Bittar
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Excepcional, como sempre, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), exemplo de equilíbrio e bom senso no Congresso, revelou ter dado passagens aéreas para amigos, por equívoco seu mesmo. Penitenciou-se por não haver percebido e questionado os critérios de concessão de passagens. Informou que vai abrir os seus dados e enfrentar a situação.
EL PAÍS – Espanha – Juan Arias
Algunos diputados brasileños reconocen su error y hasta su muerte política, como Fernando Gabeira, del Partido Verde, considerado la voz de la ética del Parlamento y que fue candidato el año pasado a la alcaldía de Río de Janeiro enarbolando la bandera de la lucha contra la corrupción política. Otros, como el senador Gerson Camata, del Partido del Movimiento Democrático (PMDB), lloran amargamente en el plenario y rechazan las acusaciones de corrupción, lanzadas, en su caso, por su propio asesor, Marcos Andrade. Todos ellos, desde el presidente de la Cámara de Diputados, Michel Temer, hasta los 11 líderes de los grupos parlamentarios, han reconocido su participación en uno de los escándalos políticos de mayor impacto y que ha suscitado de nuevo la indignación de la opinión pública: el del pago con dinero público de viajes de amantes, amigos, suegras, nueras y otros familiares al interior y exterior del país en concepto de vacaciones y recreo.
JORNAL DO COMMÉRCIO – PE – Ana Lúcia Andrade
Comoveu o desabafo de Fernando Gabeira (RJ), um dos parlamentares da tal cota dos “intocáveis” por escândalos. O deputado reconheceu o erro de também ter moderado a rigidez do uso da cota de passagens aéreas, pagas com dinheiro do povo. Mas é pouco o mea-culpa que assola a alma do parlamentar. Guardião dos votos do chamado eleitor de opinião, Gabeira pode ser um dos que, como ele, terão a próxima eleição como preço pelo erro cometido. Porque sobre esse tipo de político, a cobrança do eleitor é mais vigorosa. É o preço que se paga por ter feito carreira política no público mais informado e exigente. Essa “banda boa” do Parlamento depende do discurso. Da palavra. Que hoje, chegou ao limite do tolerável. E, amanhã, pode chegar ao do inaudível.
DIÁRIO DO NORDESTE – CE – Tarcísio Holanda
Já se viu que é legal a concessão de passagens da cota de cada deputado para familiares ou quem mais possa interessar, mas o critério está sendo contestado, eticamente. A nova sistemática que o diretor-geral da Câmara sugeriu ao presidente Michel Temer poderia se constituir na solução definitiva. Já se verificou que todos os deputados se utilizaram da cota para premiar, inclusive, parentes em viagens ao exterior. Foi o caso do líder do PPS, deputado Fernando Coruja, como do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), ambos comprometidos com movimentos éticos na Casa. A mídia está questionando o sistema de cotas de passagens para os parlamentares, que foi instituído desde a fundação de Brasília como capital da República. É forçoso reconhecer que a preocupação da imprensa se justifica, uma vez que existe uma grande permissividade. Já se noticiou que a deputada Luciana Genro (Psol-RS) deu passagem de sua cota para o delegado Protógenes Queiroz, hoje transformado em queridinho de seu partido. Não se pode estranhar o ato da deputada, que é filha do ministro da Justiça, Tarso Genro. Seu ato é legal e político. A mudança em estudo se justifica plenamente, se dirigentes e principais líderes do Congresso estão mesmo dispostos a dar maior transparência aos gastos dos parlamentares em atividades que compõem o exercício do mandato. Esse é um esforço que se justifica para reerguer o prestígio do Congresso e iniciar um trabalho de recuperação de sua imagem tão desgastada perante a opinião pública.
PÚBLICO – Portugal
O escândalo político suscitou uma vaga de indignação do Brasil e poucos escapam: os onze líderes dos grupos parlamentares reconheceram a sua participação, tal como, por exemplo, Fernando Gabeira, do Partido Verde, considerado a voz ética do Parlamento, que no ano passado concorreu à câmara do Rio de Janeiro empunhando a bandeira da luta contra a corrupção política. Também estão envolvidos membros do Partido do Socialismo e da Liberdade, de esquerda, que nasceu de protestos com a falta de ética no Partido dos Trabalhadores (PT) do Presidente Lula da Silva.
ZERO HORA – RS
O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, insinuou que a prática de usar passagens das cotas da Câmara para viagens particulares e de familiares é generalizada e defendeu o benefício para movimentos sociais. Santos está em Genebra para reuniões na ONU.
Ao escutar um comentário sobre a revelação do uso de passagens pelo deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), o ministro respondeu:
– Ele e os outros 512 (deputados).
E comentou:
– Olha, eu sou deputado.
FOLHA DE SÃO PAULO – SP – Clovis Rossi
Sou um admirador de Fernando Gabeira desde muito antes de seu envolvimento com a política partidária. É um extraordinário repórter, escreve muitíssimo bem -e quem, como eu, vive há 45 anos de fazer reportagens e escrever (não tão bem quanto ele), só pode admirar os mestres. Na política, ele manteve alta a cota de admiração, pelo que diz, pelo que faz, pelas teses que levanta, pela combinação de sensatez e firmeza com que as defende.
Por tudo isso, imaginei que ao menos ele não se deixaria levar pela onda de abusos que toma conta do Congresso Nacional.
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Não creio que Gabeira tenha usado indevidamente passagens para parentes por má-fé. Errou porque está inserido em uma cultura podre. É preciso estar muito alerta para não cair em erro.
Agora, anuncia a renúncia à política se não conseguir derrubar alguns dos privilégios dos congressistas. Uma colossal maioria de brasileiros já renunciou à política faz tempo. Não resolve nada, mas que dá vontade, dá.