O Brasil é um país engraçado. De repente, uma pauta impensável assume a dianteira sobre todos os outros assuntos, confirmando o dito: “de onde menos se espera, daí é que sai”. E eis que um tema até então obscuro surge como se fosse o único digno de discussão, e todo resto fica em segundo plano.
É como se essa grande onda tomasse todos os papos de elevador, conversas de bares e, é claro, os discursos acalorados dos meus excelentíssimos pares no parlamento brasileiro. Se o povo pede mais educação e saúde, todos sempre fizeram tudo para garantir estas necessidades básicas. Se o povo clama pelo voto aberto para cassação de mandatos, todos sempre foram a favor. Se a mídia é tomada pelo escândalo dos testes em animais, todos tornam-se protetores dos bichos. E bradam, a toda voz: “Eu lutei a vida toda por seus direitos!”.
É claro que é importantíssimo que as ânsias do povo pautem a política. Isso mostra que a nossa democracia tem força. O que me preocupa é que, rápido como veio, a discussão vai embora, dando espaço ao próximo assunto da vez. E os desdobramentos daquela histeria inicial pouco ecoam. Ando desencantado com as dezenas de atividades que me envolvo na cultura, na política, na arte. Com a idade que tenho, procuro outras formas de mexer com a sociedade, buscando discussões mais aprofundadas.
Por exemplo, não me canso de criticar o desastre que é nosso atual modelo econômico, baseado puramente no lucro. Aponto caminhos alternativos ao atual, refletindo sobre modelos que levem em conta conceitos de economia verde, economia criativa e da busca pelo FIB – Felicidade Interna Bruta, no lugar do PIB. Mas é difícil manter discussões profundas como estas quando a era da informação nos empurra novas pautas urgentes a cada segundo, à velocidade de um clique, tornando todo o resto efêmero de uma hora para a outra.
E agora, a bola da vez, que ocupa toda pauta da informação, é se proibir biografias não autorizadas é ou não censura. Um gênero literário que nunca foi destaque nem no mercado editorial surge com tudo, graças ao envolvimento de figuras icônicas da cultura brasileira. E eu até mesmo já penso em escolher um biografado para me aventurar nesta seara. Pelo meu perfil alternativo, acho que devo optar por algum anti-herói brasileiro. E me perguntam: quem é que vai se interessar por uma biografia dessas? Desconfio que a biografia é que vende, não a importância do biografado.
Aceito sugestões!
Fonte : http://www.deputadopenna.com.br