Depois de anos de lutas pela demarcação de suas terras tradicionais, ocupadas por fazendeiros e resguardadas por pistoleiros, os índios Guarani-Kaiowá comunicaram, através de carta, que irão resistir até a morte, caso ocorra a reintegração de posse das terras onde vivem, no Mato Grosso do Sul. A decisão pela reintegração de posse foi fixada pela Justiça Federal.
Um dia após o anúncio da carta, o líder da bancada do PV na Câmara dos Deputados, deputado Sarney Filho, enviou um ofício ao Ministro da Justiça, José Eduardo Calozzo, pedindo que adote as medidas necessárias para que não ocorra o que foi anunciado pelos índios. “Tal situação é extremamente preocupante. Estamos considerando, acima de tudo, o aspecto humanitário: não há como aceitar que esta tragédia anunciada se concretize porque ela diz respeito ao que temos de mais sagrado, a vida humana. Essa comunidade tem sido historicamente agredida em sua cultura e sua terra. Por conta disso, lamentavelmente, os Guarani-Kaiowá se tornaram conhecidos por fazerem do suicídio (individual) uma prática comum entre eles”, alertou Sarney Filho.
A morte coletiva foi anunciada na semana passada, por meio de uma carta escrita pela comunidade Guarani-Kaiowá, divulgada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Para a comunidade o território é um cemitério dos antepassados, denominado por eles como tekoha. “Decidimos integralmente a não sair daqui com vida e nem mortos”, é o que conclui a carta.
A terra ocupada pela comunidade indígena Guarani-Kaiowá está situada na fazenda Cambará, no município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul. A decisão de reintegração de posse foi tomada pelo juiz federal Sérgio Henrique Bonachela, da 1ª Vara Federal, em Naviraí (MS), diante da denúncia feita pelo proprietário da fazenda, que pedia posse da área. O pedaço da fazenda é ocupado pelos índios há quase um ano.
De acordo com dados do CIMI, organização ligada à Igreja Católica, a situação de confinamento em áreas pequenas, a falta de perspectivas, a violência exacerbada e a impossibilidade de retornarem às terras tradicionais a que estão sujeitos os vários grupos indígenas que vivem no estado levaram ao menos 555 índios a, isoladamente, tirar a própria vida entre os anos 2000 e 2011. Especificamente em relação aos Guarani-Kaiowá, embora já haja 43 mil deles espalhados por Mato Grosso do Sul, apenas oito terras indígenas foram homologadas para o grupo desde 1991.
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