Muitos anos se passaram desde o surgimento do Partido Verde no cenário político nacional. O PV surgiu “espetando” a esquerda e a direita.
Para a esquerda, o PV questionava a luta de classes, o centralismo democrático e as pautas que não tratavam da homossexualidade, do enfrentamento às drogas, da causa animal, das questões raciais e de gênero. O PV era o novo, a vanguarda. E essa vanguarda questionava os esquerdistas brasileiros.
Para a direita, o PV batia forte no modelo econômico que destrói os recursos naturais para gerar concentração de riqueza. Questionava veementemente a concentração de poder em Brasília, o modelo político e a democracia brasileira.
O PV era uma alternativa à velha política. Para cumprir essa espinhosa missão, o PV se blindava, evitando cair nas garras de políticos espertos e acabar sequestrado por quem era alvo de suas críticas.
Seu estatuto só deixava entrar no partido os verdes de verdade, sob o controle rígido dos velhos caciques e morubixabas, após pedir licença para o pajé, que só a concedia depois de uma consulta aos deuses.
Parte significativa das pautas defendidas pelo PV ganhou as ruas, foi incorporada à sociedade e assumida como bandeira de outros partidos e movimentos sociais. O PV foi vanguardista e vitorioso, deixando grande legado para a política nacional. Entretanto, conforme a pauta ia avançando e se tornando parte da sociedade, o Partido ia perdendo a primazia e espaço de poder real.
As portas da política se estreitaram, regras e barreiras foram criadas, novos desafios foram postos e a blindagem, antes de boa-fé, serviu para promover o encastelamento de dirigentes e o envelhecimento das direções, impedindo a oxigenação do partido, tão necessária à vida.
O corpo institucional partidário necrosou e dá sinais de que está morrendo aos poucos. Enquanto isso, os desafios que precisam ser enfrentados pela democracia – contra o modelo econômico predador – pedem juventude, vigor, criatividade e renovação.
Parafraseando Gilberto Gil, no texto usado pelo nosso vice-presidente Brandão e pela Secretária de Organização, Carla Piranda, proponho a morte do modelo institucional partidário que é vida: “tem que morrer pra germinar”.
O PV não pode morrer para terminar.
A escolha deve ser feita agora. Precisamos partir para cima. Vamos, juntos, matar o atual modelo de organização partidária e deixar a semente germinar, para que dela possa nascer um novo Partido Verde: jovem, vibrante, democrático e verdadeiro porta-voz dos movimentos vivos da sociedade.
Como fazer essa passagem para uma nova institucionalidade?
A nova institucionalidade verde deve ser uma construção coletiva. Ela deve somar a experiência dos que estiveram até aqui se doando para o projeto e a oxigenação jovem, oriunda de um largo processo de escuta nacional.
Em setembro, após esse processo de debates pelo qual o partido está passando – e do recolhimento das ideias dele oriundas – um congresso participativo elaborará as novas regras de organização dos verdes. O processo culminará com a renúncia coletiva dos atuais dirigentes e com a eleição da nova direção partidária, seguindo o novo modelo de estatuto, democraticamente construído e aprovado.
José Carlos Lima – Membro da Executiva Nacional do Partido Verde
** Este texto reflete a opinião pessoal do autor