Em seu terceiro mandato de vereador, o engenheiro Marcelo Bluma é o primeiro dos sete candidatos a prefeito de Campo Grande entrevistado do Capital News sobre as propostas de governo. Ele recebeu o Capital News em seu gabinete, na Câmara Municipal, e falou sobre saúde, transporte público, relacionamento com a Câmara, composição do secretariado, e sobre a proposta de implantação do IPTU Ecológico.
Em um dos vários pontos altos da entrevista, Bluma falou sobre a possível vinda do ex-deputado federal e militante Fernando Gabeira a Campo Grande e sobre a descriminalização do usuário de maconha.
Gabeira é membro-fundador do PV. Ele participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick às vésperas do 7 de setembro de 1969 e defendeu durante anos a legalização da maconha e seu uso industrial mais amplo possível.
Capital News – Por que o senhor quer ser prefeito de Campo Grande?
Marcelo Bluma – Eu quero ser prefeito de Campo Grande porque eu acredito que é preciso renovar a política da nossa cidade e é preciso mudar a cidade para a sustentabilidade. Campo Grande é um bom local, mas precisa melhorar muito para que de fato nós tenhamos qualidade de vida. Nós temos uma cidade que cresce, mas todos sabem que temos uma série de problemas que surgem em função desse crescimento. Precisamos ter um crescimento ordenado. Quero ser prefeito também para reestruturar o sistema de planejamento urbano da nossa cidade para que quando aconteçam as chuvas nós não tenhamos problema de enchentes, de enxurradas, para que o sistema de transporte coletivo funcione melhor, para que nós possamos cuidar dos nossos servidores municipais, para que tenham também uma vida digna. Enfim, quero ser prefeito de Campo Grande porque acredito que como engenheiro civil e vereador por três mandatos tenho condições de contribuir muito para melhorar a minha cidade.
Capital News – Quais as suas prioridades? Muito se fala em saúde e educação. Essas são as suas prioridades também?
Marcelo Bluma – Eu considero que todas essas áreas são prioridade, mas nós precisamos reconstruir o cerne da questão que é voltar a colocar engenharia e inteligência no nosso sistema de planejamento urbano. O que aconteceu com Campo Grande nos últimos 16 anos? Nós tínhamos uma tradição no sistema de planejamento que funcionava e cresceu graças a luta de urbanistas, arquitetos, geógrafos e historiadores que entendiam que a cidade tem que crescer dentro de um planejamento. Se você entender que as forças do mercado levam-na para onde quiserem, nós crescemos, mas não desenvolvemos, que é o que temos hoje. As pessoas dizem ‘nós temos vias largas em Campo Grande’.
Então, por que o nosso trânsito é tão ruim e produz um número elevado de acidentes? Se isso está acontecendo é porque nossas vias largas não estão resolvendo o problema. Concorda? Se nós temos uma cidade boa, então por que quando chove nós temos um problema de enchente e de enxurrada? Aí você olha o transporte coletivo está da mesma forma, a política habitacional tem problema, você olha para a saúde e percebe que um problema muito sério hoje.
Agora, veja, que a violência e o trânsito, hoje, sufocam a Santa Casa. O problema da saúde na ponta tem que ser observada de maneira sistêmica. Uma coisa, e eu quero tratar isso de imediato, é a falta de médico, de remédio e de demora no atendimento no posto. Isso é um problema gerencial. Nós temos mais de R$ 700 milhões por ano na saúde, mais de R$ 2 milhões por dia, precisamos ter uma gerência profissional para equacionar o problema. Agora, equacionando isso, nós vamos pôr a cada mês, mais médicos e remédios para atender as pessoas? Porque a cidade está mandando muitas pessoas para a ponta. Para resolver de fato o problema da cidade precisamos cuidar disso que é emergencial, mas nós precisamos redimensionar o crescimento da cidade. Ela hoje está crescendo na direção de uma cidade doente e não de uma cidade saudável. Então, é preciso que se reestruture esse núcleo e a partir daí comecemos a dar uma nova direção para o crescimento da cidade para ter desenvolvimento e seja sustentável.
Capital News – A Prefeitura está implantando um projeto de revitalização do centro. Isto basta ou você tem outra proposta para o centro de Campo Grande?
Marcelo Bluma – Eu entendo que o processo de revitalização do centro será tocado pelo próximo prefeito. Até agora, o prefeito atual não conseguiu empreender quase que nada, a não ser a retirada dos painéis e a reforma da praça Ary Coelho. A revitalização do centro, eu vi o projeto e quero dar sequência, entendo que a revitalização do centro é fundamental, mas passa por uma série de questões. Nós precisamos mudar a Lei do Uso do Solo. Por quê? Porque nós precisamos trazer mais residências para o centro e desafogar o comércio. A revitalização do centro depende de uma estratégia de regionalizar a cidade para que você desafoque o centro e dê condições de fato para ele voltar a pulsar e não ficar inchado da forma que está durante o dia e totalmente abandonado à noite. A minha concepção é de que o centro deve ser dotado de equipamentos para ter uma grande praça voltada para atividades culturais, lazer e o comércio, que é a sua tradição, mas se não fizermos isso, o comércio do centro não vai sobreviver a concorrência com os shoppings centers. As pessoas hoje de maior poder aquisitivo não vão para o centro. Elas vão para o shopping porque o centro está completamente congestionado. Eu vou atuar nessa direção. Entendo que é fundamental a revitalização do centro da cidade, dentro de uma estratégia de revitalização da cidade.
Capital News – Hoje a prefeitura tem dez secretarias. O senhor pretende ampliar esse número?
Marcelo Bluma – Hoje, as secretarias estão extremamente compactadas. O Nelsinho, na última reforma administrativa compactou muito e em muitos casos isso não está desenvolvendo bem. Por exemplo, a Semadur [Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano] com a união da Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria de Urbanismo, ela tem que voltar a funcionar separadamente, para funcionar melhor. A Seintrha [Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação] também precisa ser repensada porque compactou tudo na infraestrutura e termina não conseguindo dar uma boa resposta aos problemas da cidade. Agora, essa questão é para ser tratada no período de transição, após a eleição do prefeito. Aquele período legal, que o prefeito que sai tem que passar as informações para o que entra porque aí sim, com todos os dados nas mãos, de como funciona a máquina administrativa, é possível você projetar um novo modelo de secretarias. Agora, mesmo antes do período de transição, eu tenho a concepção que o modelo está concentrado demais e precisa desconcentrar.
Capital News – O PV, assim como outros partidos da oposição ao candidato Giroto, não conseguirá eleger a maioria da bancada na Câmara. Se o senhor for eleito, como o senhor pretende construir essa maioria ou fazer que os projetos importantes sejam aprovados?
Marcelo Bluma – Com a experiência que eu tenho hoje na Câmara, três mandatos de vereador e o trânsito que eu tenho, esse com certeza será o menor dos problemas. Eu tenho a convicção que a Câmara de Vereadores de Campo Grande, por tudo o que eu conheço, que acompanho, manterá um padrão de vereadores. Existe uma cultura na Câmara, já estabelecida nessa direção, de trabalhar para melhorar a cidade. Então, eu não vejo dificuldade de fazer composições, compor uma base com a maioria significativa capaz de dar suporte às demandas do Poder Executivo. Vou respeitar a Câmara. Um tratamento que sempre defendi do Legislativo e o Executivo. São instituições para cumprir missões diferentes, uma de legislar a outra de executar, mas vou ouvir muito os vereadores, até pelo fato de ter passado por aqui.
Capital News – A candidata a vice-prefeita Fernanda Fialho vai ter alguma secretaria?
Marcelo Bluma – Eu não diria secretaria, mas o nosso compromisso é que ela tenha uma participação atuante na administração. Eu escolhi uma mulher exatamente por isso, para ter a participação da mulher. Depois das eleições, vamos sentar para avaliar como, de que forma, ela pode auxiliar no processo administrativo. É uma pessoa da área da saúde: farmacêutica, bioquímica, pesquisadora da USP. É um quadro que pode ajudar muito a melhorar nossa cidade e a administração.
Capital News – Então ela poderá ter alguma pasta?
Marcelo Bluma – Pode ser, mas independentemente da pasta é importante a certeza de que ela vai participar de maneira efetiva nos caminhos da administração.
Capital News – O seu programa de governo prevê a implantação do IPTU Ecológico. Como ele vai funcionar?
Marcelo Bluma – Eu vou trabalhar inclusive a justiça fiscal utilizando o IPTU Ecológico porque é possível solucionar o problema do alto IPTU aplicando o IPTU Ecológico. O IPTU Ecológico, na verdade, é um IPTU negativo. Ele funciona como um desconto no IPTU. Na medida em que o munícipe cumprir determinadas ações é possível determinar uma alíquota de desconto. O IPTU Ecológico é para que tenhamos um IPTU melhor para o munícipe e ele cumpra uma missão importante para a cidade.
Capital News – Que tipo de ações seriam essas [que o munícipe terá que executar para obter o desconto]?
Marcelo Bluma – Por exemplo, captação de água pluvial, fazer a sua coleta seletiva e implantar calçada ecológica na frente do seu imóvel. Todos esses itens são possíveis de serem medidos e aplicados com desconto no IPTU atual e aí sim fazer uma redução no IPTU de forma inteligente. Por que de forma inteligente? Porque quando eu faço a coleta seletiva na minha casa eu diminuo o número de lixo que a empresa coleta. Eu pago, você paga, todos pagamos para a empresa levar o lixo. Na medida em que ela levar menos, nós pagamos menos. A captação da água pluvial da mesma forma. Na medida em que o cidadão captar a água pluvial no seu imóvel, nós vamos deixar de gastar milhões com obras de drenagem aqui em baixo. E aí nós podemos dar o desconto para o munícipe. Essa questão, estão dizendo ‘vamos congelar’. Isso é um discurso muito eleitoreiro e muito superficial. É possível mexer no IPTU de forma inteligente e muito boa para os munícipes. A cidade ganha com isso.O instrumento é o IPTU Ecológico.
Capital News – O senhor pensa em rever alguns contratos da prefeitura?
Marcelo Bluma – Eu acho que essas três últimas licitações, inclusive essa que está em andamento, qualquer um que for o próximo prefeito vai se debruçar para analisar e pode revê-las. Até porque o prefeito está fazendo todas elas no seu último ano de mandato para um período de 30 anos. Nós podemos também, com certeza, tomar essas medidas.
Capital News – O senhor fará uma auditoria?
Marcelo Bluma – Não uma auditoria, mas rever de fato a licitação. Eu acho que o prefeito que entrar com certeza fará. Eu também, se entrar, farei.
Capital News – O senhor pretende trazer alguma liderança nacional para a sua campanha?
Marcelo Bluma – Eu estou acertando um seminário aqui com o Gabeira. Estou dependendo da data. É um quadro importante do partido e quer vir, mas estamos acertando a data. Vamos fazer um seminário provavelmente com o nome “cidade verde, eleições limpas”.
Capital News – É um quadro importante, mas também polêmico, até pela história dele desde o sequestro do embaixador americano até a questão da maconha…
Marcelo Bluma – Ele é um militante, né. Nós temos uma presidente que participou do sequestro, aliás, que participou de assalto a banco. Então, acho que o importante é o que o Gabeira significa hoje como nome da ética na política, participação expressiva como deputado federal, grande liderança no Rio de Janeiro. É um quadro que nos orgulha dentro do partido.
Capital News – O senhor não é a favor da liberação da maconha?
Marcelo Bluma – O PV não é. O PV trata a maconha na questão da descriminalização do usuário. E trata isso como problema de saúde pública. O dependente químico tem que ser tratado como um doente, não como um bandido. O traficante sim. Agora, o usuário é um dependente químico e tem que ser tratado como tal.
Fonte : capital news