Verde traça paralelo da comunidade e os desafios da segurança e luta por cidadania
A instalação de uma UPP com 700 homens e mulheres, assim como a colocação de 100 câmeras de vigilância indica que a Rocinha tem uma nova chance para alcançar a segurança. E mostra como é um bairro extraordinário que, apesar do controle dos traficantes, soube também multiplicar as iniciativas micro empresariais e se tornar um lugar cultural e economicamente vivo.
Sempre denunciei o controle da Rocinha pelo tráfico de drogas. Achava que a instalação do PAC na Rocinha era incompatível com a presença de grupos armados.
O tráfico estava se tornando uma nítida força política, indicando e elegendo alguns candidatos, restringindo o movimento de outros.
É uma ilusão supor que os problemas da Rocinha se limitam à segurança. Há alguns anos foi constatado entre os moradores um alto índice de tuberculose.
O lixo nem sempre é recolhido e, às vezes, se acumula nas ruas. Com a presença da UPP talvez se constate que a fragilidade da coleta de lixo não depende tanto da segurança.
A questão do lixo poderia ser resolvida com o envolvimento da população. Se adaptássemos caçambas às motocicletas elas poderiam fazer com mais leveza o trabalho de remoção do lixo. E se houvesse, como se fez em Curitiba, uma recompensa pela troca de material reciclável muita gente poderia participar da tarefa.
A Rocinha é um universo cultural rico que nas feiras de domingo aparece com mais nitidez. É um bairro que poderia receber mais gente de fora, trocar mais com o exterior.
Hoje, turistas estrangeiros percorrem o bairro num jeep. Isso ainda me parece um safári na África, protegido do contato com os bichos da floresta.
A Rocinha vai achar seu caminho através de sua rica cultura e sobretudo do seu espírito de empreendimento. Há um economista peruano, Hernando de Soto, que enfatiza o poder econômico dos empreendedores nas favelas. O caso da Rocinha é emblemático desse poder.
Se o lugar chegou a tudo o que é sob um domínio tirânico, agora tem imensas possibilidades de decolar como bairro.
E o que é olhar um pouco além da segurança? Com 100 câmeras instaladas, a Rocinha dá os primeiros passos para se tornar um bairro inteligente.
Ela pode ter, no futuro, um núcleo administrativo que use essas câmeras para outras finalidades porque além de segura, a Rocinha precisa ser mais humana e sustentável.
De um modo geral, as UPPs depois de abordarem a segurança descobrem uma série de novos problemas. Elas darão um novo passo se usarem a experiência vivida para equacionar na entrada o que levaram meses para descobrir em outras ocupações.
Vale a pena acompanhar esta nova e promissora fase que a Rocinha viverá. Se depender da energia e criatividade dos moradores, ‘la nave va’, como dizem os italianos.
PV.RJ