Do Diário de Pernambuco:
O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) é um dos parlamentares que na próxima semana estarão à frente do movimento que pretende resgatar a moralidade e combater a corrupção no Congresso. Para ele, é importante manter o grupo unido, uma vez que a luta contra o que ele classifica de “profissionais em se esquivar”, é árdua. Nesta entrevista, Gabeira adianta que a pauta das discussões inclui temas como transparência e voto aberto.
O senhor integra o movimento que está surgindo a partir da entrevista do senador Jarbas Vasconcelos à Veja e que terça-feira vai começar a mobilizar parlamentares em Brasília. O que estará em pauta?
O movimento não surgiu só a partir da entrevista de Jarbas. De vez em quando a gente se articula. Tivemos a CPI dos sanguessugas, tivemos várias coisas. Mas a reunião pode ser terça ou quarta porque é a volta (do feriadão do carnaval) ainda. Não sei se haverá tempo para uma articulação na terça. Vamos apresentar algumas idéias sobre o que fazer. Como somos minoria, temos que nos manter unidos e discutir basicamente a transparência. Porque a única maneira de combater a corrupção é obter avanços na questão da transparência. Estamos com uma luta que foi vencida parcialmente pelo voto aberto na Câmara dos Deputados. A gente conseguiu aprovar em primeiro turno mas precisamos trazer para o segundo turno também. Vamos colocar isso ainda como projeto para ver se conseguimos aprovar. Vamos discutir também o foro especialpara parlamentares em crimes que não sejam de palavras ou de voto. Vamos acompanhar todos os acontecimentos para tentar fazer com que a maioria seja mais controlada pela minoria.
Vai ter algum tipo de pressão contra a ‘janela’ que permitirá a volta da infidelidade partidária?
Isso aí não se discutiu não. Vamos ver se fazemos uma agenda com várias ideias. Mas essa aí ainda não foi colocada como elemento da agenda, não.
Mas é possível que entre na agenda?
É possível que alguns elementos de reforma política sejam colocados. Existe no Senado alguma coisa questionando os suplentes que não tem voto. O Senado é composto em grande parte por suplentes que não tiveram voto algum.
Como fazer para mobilizar a opinião pública para esse movimento?
Olha, espaço na opinião pública nunca foi problema. Desde que estas questões se colocaram conseguimos nos articular muito bem junto à opinião pública. O difícil é enfrentar a tática dos adversários. Porque eles esperam a opinião pública e o movimento, concedem alguma coisa e depois aguardam que passe a onda e anulam aquilo que concederam. O problema não é, pura e simplesmente, de obter uma pressão da opinião pública. O problema é como transformar o movimento numa pressão continuada. E que não se permita que eles se rearticulem e neguem todas as concessões que fizeram.
Então, a saída pode ser ganhar mais apoio de integrantes do Congresso, inclusive de governistas?
Não há nada contra a participação de pessoas ligadas ao governo. Não queremos nos comprometer com o governo, mas queremos todos que estiverem dispostos (a integrar o movimento). Porque o que está em jogo, na verdade, é o futuro do parlamento. É a própria a democracia. Se o fosso entre o parlamento e a opinião pública ficar muito profundo a própria democracia fica ameaçada.
Conseguir espaço para essa discussão, contra um governo que comanda Senado e Câmara, é uma luta árdua, não?
É, eles são muito profissionais em se esquivar.