Infelizmente, a notícia não é nenhuma novidade. Indígenas acampados na fazenda Cambará, às margens do rio Hovy, no Mato Grosso do Sul, tiveram sua expulsão da área determinada pela Justiça Federal. Em carta, eles se queixaram da violência que sofrem diariamente e falaram em morte coletiva caso a ordem de retirada deles do território fosse cumprida. A notícia trouxe novamente à tona uma realidade que é corriqueira, mas que passa quase despercebida. Índios são assassinados diariamente em conflitos permanentes por terras. Seja no Mato Grosso do Sul, na Bahia ou no Amazonas, o problema é crônico, uma guerra covarde que já dura mais de 500 anos.
O que me chama atenção de uma forma positiva neste caso é a intensa manifestação da sociedade civil, que desde que tomou conhecimento da liminar iniciou uma ampla campanha contra a decisão. A mobilização tomou corpo pela internet, movimentando as redes sociais, o que resultou em um abaixo-assinado que colheu mais de 270 mil assinaturas. Isso foi essencial para chamar a atenção do poder público e para a decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (SP e MS) de cassar a liminar que determinava a desocupação. Mas o que faz um jovem da Vila Madalena, ou de qualquer outro grande centro urbano, se solidarizar com uma realidade tão distante e arregaçar as mangas para impedir esta injustiça?
O cenário pode ser outro, mas a insegurança é a mesma. Se estamos distantes da guerra agrária, estamos próximos da guerra urbana, que mata todo dia, em média, mais de seis pessoas em São Paulo. A escalada da violência urbana que toma conta dos noticiários não é diferente do conflito armado por terras, e faz o morador das grandes cidades se identificar com o medo dos índios. Tanto um Guarani-Kaiowá quanto um trabalhador paulistano sabe bem qual é a sensação de acordar todo dia torcendo para não virar mais um nas estatísticas. Não é surpresa que uma pesquisa recente feita na grande São Paulo mostre que 76% dos entrevistados já foram abordados por ladrões e que 71% se sentem amedrontados na cidade.
Casos como o dos Guaranis-Kaiowás e da recente onda de violência em São Paulo ganham um valor simbólico, mostram a necessidade de uma intervenção urgente do Estado para impedir que mais vidas sejam perdidas. Porque, seja um policial paulista ou um índio Guarani-Kaiowá, o valor de cada vida é o mesmo, e inestimável.
Fonte : www.deputadopenna.com.br