A candidata do PV à Prefeitura do Rio de Janeiro, Aspásia Camargo, foi entrevistada ao vivo nesta quinta-feira (20), no RJTV, pelos apresentadores Ana Paula Araújo e Edmilson Ávila. Até o fim desta semana, o telejornal vai entrevistar os cinco candidatos mais bem colocados na pesquisa Datafolha do dia 12 e cujos partidos têm representação na Câmara dos Deputados.
A ordem foi definida por sorteio com a participação de representantes dos partidos. O tempo da entrevista é de 12 minutos, com uma tolerância de 30 segundos.
Abaixo, leia a transcrição da entrevista, com perguntas e respostas. O vídeo da entrevista você pode conferir aqui
Ana Paula Araújo: Candidata, nas pesquisas divulgadas até agora, a senhora tem obtido tanto no Ibope quanto no Datafolha, cerca de 1% a 2% da preferência do eleitorado. A senhora também já concorreu a governadora, em 2002, ficou em sexto lugar. Isso não mostra uma resistência do eleitor a que a senhora ocupe cargos executivos?
Aspásia Camargo: Primeiro que 1% já se foi, eu estou com 2% e sei que já estou com 3%, e isso vai subir mais, já subiu, porque nesse momento há uma virada nas campanhas. E o fato novo é o que eu estou trazendo para discussão que é a sustentabilidade, uma cidade humana, solidária e sustentável. E isso está agradando muito a população porque eles estão sentindo que é viável e que só tocar obras nessa cidade não é garantia de qualidade de vida e que nós precisamos fazer um Rio diferente, ter um legado olímpico diferente desse que está sendo proposto pelos candidatos.
Ana Paula Araújo: Mas, candidata, falando da sua votação em 2002, quando a senhora foi candidata a governadora. A senhora, no fim da votação, teve 20.405 votos, ficou em sexto lugar. Isso é menos de 0,5% dos votos válidos…
Aspásia Camargo: Mas isso faz muito tempo
Ana Paula Araújo: Mas não há essa resistência ao seu nome?
Aspásia Camargo: Não, absolutamente. Naquele momento, o Partido Verde tomou uma decisão no dia 30 de julho que eu deveria ser candidata para não deixar a Rosinha levar o Partido Verde como aliado. E esse foi o problema, como foi agora o assédio que os partidos fizeram para conseguir conquistar o PV, interessados no tempo de televisão, que é sempre a cobiça de todos os partidos. Nós escapamos disso, o Partido Verde está no pedaço, estamos fazendo uma grande discussão sobre a cidade. Já somos vencedores porque colocamos o saneamento como uma prioridade para as Olimpíadas e pro Rio de Janeiro. Essa ideia, força, já colou. Pedimos a municipalização dos serviços da Cedae, a ideia já colou. Vejam só, isso tudo com tão pouco. Então nós podemos ir adiante.
Edmilson Ávila: Candidata, vamos falar de outras propostas agora, vamos falar de propostas para a saúde, aqui, o modelo das Organizações Sociais, as OSs. Mas lendo o plano de governo da senhora – a senhora me permita ler aqui, diz o seguinte: “precisamos discutir com a sociedade o modelo de gestão, desenhando, implementando um modelo pactuado com todos os setores da sociedade civil”. Candidata, não fica claro qual será a gestão das unidades, como será essa gestão. A senhora não poderia ter apresentado aí, claramente, um programa, uma proposta para a saúde? Ou a senhora não tem?
Aspásia Camargo: Eu já apresentei em 2005.
Edmilson Ávila: A senhora tem uma proposta para a OS? Como é que vai ser?
Aspásia Camargo: Tenho, tenho. A OS, eu implantei a OS na TVE. E eu conheço profundamente o sistema da OS, não é isso que o prefeito inventou aí. Nós temos que ter o comando da prefeitura nesses hospitais ou nessas unidades. E, nos hospitais, nós só podemos implantar a OS no hospital Gazola, que é o único que a lei permite. Agora, em 2005, eu fiz a CPI da Saúde, quando a saúde quebrou no Rio de Janeiro por conta de uma municipalização desastrada. E lá nós estabelecemos 14 princípios de gestão que deveriam ser aplicados. Primeiro: o prefeito tem que comandar não é só a rede de saúde dele, município, tem que comandar a rede estadual e a rede federal. Isso se chama uma gestão plena que o SUS dá a ele e ele não exerce. Em segundo lugar, tem que descentralizar os recursos. E tem que fazer, em primeiro lugar, a central de regulação, que não conseguiram implantar isso.
Edmilson Ávila: Me permita, na saúde, nós temos hoje, administradas pela OS, 66 Clínicas da Família e 13 UPAs. A senhora vai… onde fica e onde sai? A senhora cancela a OS?
Aspásia Camargo: Veja só, eu não vou dizer pra você que eu cancelar a OS, mas eu vou dizer pra você que há certas coisas que estão sendo discutidas e ouvidas em toda a cidade que são incongruentes. Por exemplo, ter postos de saúde, Saúde da Família, isolados, às vezes até um ao lado do outro, é incongruente, porque os dois fazem a mesma coisa que é a prevenção, a atenção inicial que todo mundo precisa. Então pra que, pra que…
Edmilson Ávila: Mas, candidata, a senhora vai manter ou a senhora vai tirar a OS?
Aspásia Camargo: Nós vamos reestudar esse processo, porque não é…
Edmilson Ávila: Então não tem uma definição, candidata?
Aspásia Camargo: Temos, temos. Vamos parar de construir obras que a gente não sabe pra que servem. A população quer serviço, a população quer prédio, prédio que não funcione. Por toda parte por onde nós vamos – estive agora na UPA do Engenho de Dentro – é uma desolação, tá lá uma pessoa abandonada há vários dias e não sabe pra onde vai depóis que ela sair da emergência em que ela está lá. Então a população está perdida como um zumbi nessa cidade e a gestão da saúde exige o que se chama realmente uma central de regulação. Esse é o primeiro princípio do SUS.
Ana Paula Araújo: Vamos mudar agora de assunto e falar de um outro problema muito grave que o Rio enfrenta que é a epidemia de crack. A gente sabe que o combate ao tráfico é uma atribuição do governo do estado, da polícia, mas cabe à Prefeitura uma série de ações para tratar dos viciados. E no programa de governo da senhora, mais uma vez isso é um assunto que não está muito claro, não está detalhado. Seu programa de governo diz apenas que haverá “parcerias para recuperação de drogados” e sequer menciona a palavra crack. Por quê?
Aspásia Camargo: Eu acho que o crack é uma coisa realmente muito grave, porque primeiro nós temos que pedir à Polícia Federal para ser mais ativa e exercer o seu papel de descobrir quem são os abastecedores desse crack.
Ana Paula Araújo: Mas falando da ação da Prefeitura, qual vai ser a ação da Prefeitura?
Aspásia Camargo: Não, mas a prefeitura precisa começar por aí. Não podemos ficar enxugando gelo, Ana Paula. Ficar criando grandes centrais de atendimento pra ter cada vez mais jovens envolvidos no crack. A Polícia Federal existe pra isso, ela tem que acabar, ela tem que identificar quem são os vendedores desse crack. Isso é a primeira coisa. Segunda coisa: as igrejas sabem muito bem tratar essas crianças e tratar bem pra resolver esse problema de uma maneira mais articulada com as famílias. Eu me recusa a achar que essas crianças têm que ser simplesmente depositadas num lugar, numa clínica sem nenhum tipo de carinho, sem nenhum tipo de atendimento. Então, sós temos que fazer essa parceria, é a isso que eu me refiro quando eu estou falando em parceria. E, logicamente, que a Prefeitura tem que usar também a Guarda Municipal pra ficar de olho, porque nós já temos esses centros identificados. Eu estive em Bonsucesso e me mostraram: “olha, é ali que os meninos estão cheirando crack”. Então, por que se todo mundo sabe, por que que a Guarda Municipal não sabe, por que que a Polícia Federal não sabe?
Ana Paula Araújo: Agora, candidata, a senhora pretende manter a internação compulsória?
Aspásia Camargo: Não vamos chamar compulsória, porque é tão desumano. Não é compulsório. Você tem que dar um tratamento, você não pode deixar a criança abandonada na rua. Mas eu tive experiência com isso porque na minha esquina, na esquina onde eu moro havia um grupo que estava justamente com crack. E eu tratei deles muito bem, eu consegui várias iniciativas, sozinha eu consegui fazer muita coisa. Então nós temos que ter mais humanidade pra tratar essas crianças sem deixá-las abandonadas ao Deus dará. Mas cuidar das mãe também porque as mães são as principais vítimas e elas estão completamente perdidas sem saber como evitar esse flagelo.
Edmilson Ávila: Candidata, a senhora esteve aqui no RJTV 2ª edição e disse que, se eleita, pretende investir muito em reciclagem de lixo. Disse que até o final de seu governo, a senhora vai passar a taxa de 0,5% na coleta de lixo reciclado para 60%. Bem, nós fizemos uma pesquisa, e em Nova York, por exemplo, que já tem uma taxa de 15%, eles vão chegar a 30% só em 2017. Eu pergunto pra senhora: essa não é uma meta irreal? Como é que a senhora vai conseguir chegar a 60% em quatro anos?
Aspásia Camargo: Veja só, nós precisamos primeiro ter ousadia, nós temos que ter ousadia. E o prefeito – vocês mesmo entrevistaram o prefeito aqui – ele prometeu uma série de metas que ele não cumpriu também. Mas eu acho que a gente não tem que cobrar só as pessoas que elas estão propondo. Eu acho que tem que cobrar muito dos candidatos é a vontade política e a maneira de fazer isso. A primeira coisa é mudar a Cedae, a Comlurb, porque a Comlurb é uma empresa de limpeza pública, não é uma empresa nem de coleta coletiva nem de reciclagem, e a reciclagem depende da Região Metropolitana. Se nós… O prefeito prometeu 35%, então ele está com o padrão de Nova York…
Edmilson Ávila: A senhora mantém a meta, então, de 60%?
Aspásia Camargo: O prefeito aumentou a meta dele e propôs 35%
Edmilson Ávila: Tudo bem, o prefeito. A meta da senhora, candidata? A proposta da senhora?
Aspásia Camargo: Se o prefeito – que não é “sustentabilista” – está propondo 35%, por que que eu, que sou ambientalista, convencida de tudo isso, não posso propor mais? Vamos propor mais.
Edmilson Ávila: A senhora mantém 60%?
Aspásia Camargo: Proponho 60%.
Ana Paula Araújo: Candidata, falando também um pouco mais sobre programa de governo, a senhora afirma que pretende direcionar a ação da Guarda Municipal para fazer a cobertura de locais com maior criminalidade, focando na segurança de moradores mais que na repressão. Num possível governo da senhora, qual seria então o papel da Guarda Municipal nesses locais de maior criminalidade, por exemplo Vila Kennedy, Morro do Chapadão, onde tem domínio do tráfico, onde tem tiroteio? Qual seria o papel da Guarda?
Aspásia Camargo: Veja só, certamente que em áreas onde há tiroteio e até a Rede Globo não gosta de ir por lá porque a gente tem medo, não é caso de botar, da Prefeitura querer resolver o problema com a Guarda.
Ana Paula Araújo: A senhora falou de colocar os guardas em áreas de maior criminalidade…
Aspásia Camargo: Nas ruas. Nas áreas em que ver e ter a vigilância faz a diferença. Não pra intervir, mas pra informar, porque você sabe que o sistema de informações é a coisa mais importante que há no sistema de segurança. Antes de você usar uma arma, antes de você provocar um conflito, você tem que saber o que está se passando. E a Guarda Municipal bem treinada, um núcleo bem treinado da Guarda Municipal pode fazer isso. Ontem eu estive numa área que é uma área problemática, eu tava vendo ali problema… Coelho Neto, Barros Vidal…
Ana Paula Araújo: Atribuir esse papel aos guardas e colocá-los nessas ruas com alto índice de criminalidade, isso não vai colocar os guardas em risco?
Aspásia Camargo: Veja só, o papel da Guarda é a prevenção, Ana Paula, em todo lugar. Não é cobrar multa, como a Guarda tem feito até agora, né? Eu acho que o papel da Guarda é ser uma polícia comunitária e se as pessoas e os seres humanos estão vivendo ali por que que não pode ter Guarda Municipal? A crítica que eu faço à Guarda Municipal é que ela chegue até a Tijuca, ela não chega nem no Méier ainda. E você vai à Zona Norte inteira e vê que não tem um guarda municipal por ali. Eu acho isso um erro grave porque, afinal de contas, na Zona Sul a gente vê às vezes, dois, três guardas andando juntos, que a gente não sabe bem o que é que eles estão fazendo, mas há uma prioridade muito grande pra cobrar multa e não é esse o papel da Guarda. O papel da Guarda é prevenir, olhar, observar e trabalhar com a população como uma polícia comunitária. É isso que existe no mundo inteiro, inclusive em São Paulo houve excelentes experiências, que eu acho que a gente tem que fazer aqui no Rio também.
Edmilson Ávila: Candidata, vamos falar mais um pouquinho sobre política. O Partido Verde foi fundado na década de 80, mas só fez a primeira prefeita de uma capital em 2008, nas eleições para governador não fez nenhum representante, no Rio de Janeiro não tem nenhuma cidade administrada pelo PV. A que que a senhora atribui esse fraco desempenho do partido?
Aspásia Camargo: Veja só, o Partido Verde teve Marina Silva com 20% dos votos na campanha presidencial passada…
Edmilson Ávila: Ela saiu do partido.
Aspásia Camargo: Ela saiu, mas ela é verde.
Edmilson Ávila: Ela foi verde.
Aspásia Camargo: O campo verde, vocês têm que entender isso, o campo verde é um campo solidário. Nós temos o Carlos Minc, que está no PT, ele é do campo verde. E nós trabalhamos juntos. Agora com saneamento, estou conversando com ele, estou conversando com as pessoas que estão do outro lado, do estado ou no governo federal. Nós temos que trabalhar juntos pela sustentabilidade e isso tem que ser uma grande aliança, uma coisa generosa, não é guerra, não é como outros candidatos estão propondo, tanto conflito, tanta briga… É o consenso numa direção que é a direção que todas as cidades do mundo estão seguindo. É a Rio+20.