Por: Deputada Leandre Presidente da Frente Parlamentar Primeira Infância
Neste dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, sem negar a importância e a magnitude das florestas, quero falar sobre o potencial das sementes.
O meio ambiente é um conjunto tão diverso e complexo de biodiversidade que é até mesmo difícil dizer onde começa e onde termina. É desse ambiente, muitas vezes mal compreendido, de onde extraímos alimento, o ar que respiramos, a água que nos mantém vivos. É ele que faz as chuvas, que irriga nossas lavouras, que nos provê insumos para fazer a ciência avançar.
E as sementes são o começo de grande parte desse ecossistema, assim como as crianças são o começo de tudo para nós, seres humanos. Tanto as crianças quanto as sementes precisam de um ambiente propício e saudável para se desenvolverem. Um solo pouco nutritivo faz com que as plantas cresçam com dificuldade e talvez não dêem os frutos esperados. As crianças também. Alimentos pouco saudáveis, água de má qualidade, o ar poluído – tudo contribui para condicionar seu pleno crescimento e desenvolvimento.
Isso significa que a garantia de um meio ambiente protegido é um dos elementos para a garantia de uma infância saudável. Se a semente bem cuidada um dia virará uma árvore, uma criança bem cuidada um dia virará uma pessoa adulta. Decidir como queremos que esse adulto seja é papel de todos nós, hoje.
Sabe-se que eventos climáticos como as secas, enchentes e ondas de calor tendem a aumentar em freqüência e intensidade, impactando os grupos mais vulneráveis, como as crianças. Apenas em 2015, quase 6 milhões de crianças morreram antes dos cinco anos no mundo. E dessas mortes, 26% poderiam ter sido evitadas com atenção aos riscos ambientais.
E não falo apenas das crianças que nascem no campo ou nas florestas. Falo principalmente daquelas que nascem nas cidades, já que a maioria da nossa população já vive em áreas urbanas.
A conexão entre a criança a natureza faz com que se cresça compreendendo melhor a vida em nosso planeta, desenvolvendo um senso de cuidado e ampliando a percepção de que todas as coisas estão interligadas. Ao mesmo tempo, reforça a ideia de que um ambiente saudável é condição necessária para o desenvolvimento das crianças, devendo ser, inclusive, um direito implementado em tratados internacionais. Hoje, pediatras tem receitado “brincar na natureza” como prescrição médica para as crianças. E, na vanguarda, o Marco Legal da Primeira Infância, em seu artigo 5º, considera que o meio ambiente também constitui uma área prioritária para as políticas públicas voltadas a primeira infância.
Mas no Brasil, andamos na contramão. Por aqui, há ministro que quer se aproveitar da atenção da imprensa a uma pandemia global para “passar a boiada” no conjunto de regras ambientais que, na visão dele, precisam ser alteradas. E pior: mediante decretos e resoluções, sem a participação da sociedade.
O desmatamento no Brasil atingiu recordes históricos em 2020. Ao contrário de todos os países, aumentamos a emissão de gases de efeito estufa durante a pandemia. O Brasil não tem criado as condições para que nossas sementes cresçam saudáveis e, conseqüentemente, pode impactar o direito das nossas crianças crescerem saudáveis também.
Por isso, é importante refletirmos que país queremos deixar para as nossas futuras gerações e lutar hoje contra medidas que possam comprometer o futuro das crianças, já que muitas das decisões tomadas agora, os impactos serão sentidos mais à frente. Serão as crianças de hoje e as que ainda virão que terão que conviver com o resultado dessas decisões no futuro – e aqueles que deixaram a boiada passar, talvez não estejam mais aqui para verem o dano que causaram.