Artigo do deputado federal José Paulo Tóffano (SP):
Como parlamentar do Mercosul e adepto da integração entre os países do nosso continente, aproveitei dez dias de recesso que tive e fui conferir pessoalmente o que é a tal Venezuela.
Uma certa experiência adquirida nesses dois anos de Mercosul me traziam a certeza de que não encontraria problemas em me alojar ou me deslocar na “pequena Veneza”.
Não era missão oficial e todos os custos saíram do meu bolso. O meu intuito era justamente chegar por lá sem despertar qualquer suspeita. Sofreria, assim, as agruras e compartilharia as alegrias como um cidadão Mercosulino comum, sem o tratamento diplomático que provavelmente maquiaria as realidades do país.
Sem reserva em hotel nem aluguel de automóvel, as dificuldades começaram no aeroporto. Ao contrário de outros países da América Latina, a oferta de veículos nas locadoras era quase nula. A saída foi o táxi. Aliás, com preço bem salgado…
Não acostumado a ter surpresas na conversão de moedas ao utilizar cartão de crédito nos países do Mercosul, optei por não portar moedas estrangeiras. Que besteira! O câmbio era absolutamente artificial, propondo paridade com o real. No paralelo ofereciam três vezes mais.
Pedi ao divertido taxista para me levar até uma pousada no interior, distante duas horas de Caracas. Observei muita pobreza pelo caminho e uma estradinha cortando uma floresta tropical de exuberância ímpar. A pousadinha, bem modesta, cobrava em dólares no câmbio oficial. Aí ficava cara.
Depois de três dias em contato com as pessoas do interior, já havia feito bons amigos. Tanto que segui de carona para Caracas e, fruto da hospitalidade e espontaneidade venezuelana, foi deselegante recusar o convite para ficar hospedado numa casa de família de origem portuguesa que se encantou em poder praticar um pouco de português.
Eles odiavam Hugo Chávez! Assim como todos aqueles que conversei e que possuem comércio ou indústria. Afirmam que o presidente boquirroto provocou uma divisão inexistente no país até então, fomentando o ódio entre classes sociais distintas.
O estilo do presidente não tem nada a ver com Caracas, uma bela metrópole. Prédios, trânsito, shoppings, grandes lojas, comércio ativo, locais seguros e locais violentos. Foi lá que vi, pela primeira vez, um imenso prédio de quatro andares dedicado ao ensino e à diversão, com características interdisciplinares e transversais, para alegria das crianças (e dos adultos também!): o museo de los niños.
Percebi nitidamente que Chávez era um momento da Venezuela e que a Venezuela é muito mais do que Chávez. Por mais que tente se eternizar no poder, não conseguirá. A grandeza do povo venezuelano buscará a salutar alternância do seu chefe do executivo. E já notamos uma tendência de aumento no contingente de resistentes ao regime Chavista nas duas últimas consultas populares.
A dinamicidade da política e da economia exigem adaptações e mudanças nas posturas dos que estão no poder. A queda no preço do barril de petróleo por conta da crise mundial somada à posse de Barack Obama fizeram com que Chavez acenasse com a possibilidade de aproximação com os Estados Unidos.
A aceitação da Venezuela no bloco regional trará várias vantagens. Uma delas permitirá que investiguemos in loco denúncias levadas à comissão de direitos humanos do Parlasul. Outras vantagens que vislumbro são o estímulo a outros países vizinhos ao norte a virem para o Mercosul, a possibilidade de expandirmos ainda mais o maior saldo positivo de nossa balança comercial e facilitar o contato com uma nova e rica cultura.
Há, sem dúvida, determinados pontos nessa discussão que nos pedem atenção, mas estou certo de que uma das funções do Parlasul é a de fiscalizar o cumprimento dos tratados e acordos celebrados entre os estados participantes do bloco, independente de quem esteja temporariamente no comando.
José Paulo Toffano é deputado federal (PV/SP), presidente da comissão de meio ambiente e desenvolvimento regional sustentável do Parlasul e secretário nacional de formação do Partido Verde.