Colunista Agostinho Vieira, de O Globo, destaca a importância da candidata do Partido Verde, cujas propostas foram incorporadas por outras candidaturas
Seja qual for o resultado das eleições municipais no próximo dia 7 de outubro, ou num eventual segundo turno, vinte dias depois, já dá para perceber uma mudança sensível nos debates. Temas como tratamento de esgoto, mobilidade urbana, reciclagem de lixo e ocupação do território, que nas últimas campanhas passaram ao largo das discussões, estão começando a ganhar cada vez mais espaço.
Isso ficou claro na série de entrevistas que O GLOBO fez com os candidatos a prefeito do Rio na semana passada. A começar pela proposta da candidata do Partido Verde, Aspásia Camargo, de municipalizar a coleta e e o tratamento de esgotos da cidade, hoje a cago da CEDAE. A ideia teve tanta repercussão que acabou sendo incorporada por quase todos os outros candidatos, inclusive o prefeito.
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São quase dois milhões de cariocas que vivem sem esgoto em casa. Uma massa de eleitores que deve estar feliz com o destaque que o assunto passou a receber nas campanhas. Afinal de contas, não faz tanto tempo assim que obras debaixo da terra tiravam votos. Mas nem só de água e esgoto vive o saneamento. A reciclagem de lixo, outrora papo de ecochatos e de países desenvolvidos, ganhou o seu quinhão.
Hoje, a cidade recicla menos de 1% do lixo gerado, número bem inferior à media nacional. O Plano de Gestão de Resíduos Sólidos, publicado em agosto pela prefeitura, prevê que a reciclagem chegue a 5% no final de 2013 e 25% em 2016. Na entrevista ao jornal, o prefeito falou em 35% daqui a quatro anos. Vamos torcer para que não seja apenas um engano.
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Onde o candidato (Marcelo Freixo) errou feio foi na discussão sobre a ocupação do Jardim Botânico. Ele divide área em espaços para pesquisas, a serem preservados, e o resto, onde admite manter as famílias que ocupam o local. Se um candidato tem dúvidas sobre o que fazer com um patrimônio como o Jardim Botânico, o que fará com outras áreas de preservação ambiental?
Não se trata de escolher entre as pessoas e o meio ambiente, mas de entender que um não sobreviverá sem o outro. O medo de perder votos ainda faz que o tema das remoções continue sendo um tabu. São poucos os postulantes que admitem publicamente que quem vive em área de risco não tem área alguma, só o risco.
Além da remoção dos moradores de áreas de risco e dos veículos de ruas centrais, outros temas ainda precisam ser removidos das gavetas. Como as emissões de gases de efeito estufa, a poluição das praias, a limpeza da Baía de Guanabara, dos rios e lagoas da cidade, a eficiência energética dos nosso prédios, o uso adequado da água, entre outros. Mas isso vai ficar para as próximas eleições. Quando a situação ficar mais grave e, os nossos políticos, um pouco mais conscientes.
Jornal O Globo. DEBATES SUSTENTÁVEIS
Agostinho Vieira/Economia Verde – 20/09