O Meio Ambiente é o patinho feito do governo Bolsonaro. Diferente do belo conto infantil de Hans Christian Andersen, depois de muita rejeição — se prevalecer o critério de que deve passar pelo crivo dos ruralistas — não deve surgir um cisne na Esplanada dos Ministérios.
A disputa pelo comando do Meio Ambiente é acirrada. No primeiro esboço, por influência da UDR e de outros setores ruralistas igualmente atrasados, Bolsonaro topou a proposta de pôr o Meio Ambiente sob as asas da Agricultura. Houve forte reação. Pegou mal entre os militares que serviram na Amazônia, participaram intensamente da campanha, e têm peso na equipe de transição. O agronegócio de exportação, mais antenado com o mundo, também vetou a incorporação.
Ao justificar o recuo, Jair Bolsonaro disse que o escolhido teria de receber o aval da turma da agropecuária. Tereza Cristina, futura ministra da Agricultura, e Blairo Maggi chegaram a um consenso: o pesquisador Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, um sofisticado centro de inteligência e monitoramento, inaugurado há menos de um ano em Campinas.
Engenheiro agrônomo, com mestrado e doutorado em Ecologia na histórica Universidade Montpellier, na França, Evaristo de Miranda é um entusiasta da agropecuária brasileira que considera um modelo de preservação da natureza. Seu “Tons de Verde – A sustentabilidade da Agricultura no Brasil” é um luxuoso livro, lançado em 2018, com mapas, gráficos, e um minucioso levantamento de toda a produção rural brasileira e de seu impacto no meio ambiente. Sua conclusão: os produtores rurais são parceiros na proteção, preservação e conservação da vegetação nativa e da biodiversidade.
Tons de Verde soou como música no universo do agronegócio. Virou uma espécie de bíblia e principal cartão de visita do governo e dos exportadores de commodities agrícolas mundo afora. Foi com base em seus dados que Onix Lorenzoni comprou briga sobre a preservação da Amazônia com a Noruega — maior financiador do fundo para a preservação da floresta amazônica. Com todo esse cacife, apesar de alguns integrantes da equipe de transição considerarem algo exageradas suas louvações ao agronegócio, Evaristo de Miranda se tornou pule de 10. Ele também tem o apoio de ex-ministros da Agricultura como Alysson Paulinelli — criador da Embrapa — e Roberto Rodrigues.
A intenção de Jair Bolsonaro era anunciar o novo ministro do Meio Ambiente na quarta-feira, mesmo dia da controvertida indicação do diplomata Ernesto Araújo para o Itamaraty. Ocorre que, na hora H, Evaristo alegou motivos familiares para recusar o convite: problemas de saúde do filho e de sua mulher. Também teria pesado em sua decisão o fato de que teria de trocar um bom salário do topo da carreira na Embrapa para um bem menor como ministro de Estado.
Tereza Cristina e Blairo Maggi ainda tentam demovê-lo. Mas sua recusa reabriu a disputa pelo cargo. Voltou ao páreo o ex-deputado Xico Graziano, com bom trânsito entre ruralistas e ambientalistas, que ainda enfrenta resistências por ter sido tucano até o início da campanha eleitoral. Alguns ambientalistas tentaram entrar no vácuo e emplacar a atriz Maitê Proença, que se animou com a perspectiva, mas foi detonada por um postde Carlos Bolsonaro no Twitter: “Gostaria de saber de onde surgiu o convite para Maitê Proença ser uma possível ministro do Meio Ambiente. Meu Deus!”.
No meio dos ruralistas quem ganhou fôlego foi o deputado Evandro Gussi (PV-SP). Eleito em 2014, com apoio da Renovação Carismática católica, Gussi se destacou nesse mandato pelo combate ao aborto, inclusive nos casos autorizados pela legislação brasileira. Ele propôs, por exemplo, que os profissionais de saúde poderiam alegar questão de consciência para descumprir a lei. Gussi não concorreu a reeleição.
Apesar de filiado ao partido Verde, que se coligou com Marina Silva, ele sempre apoiou Bolsonaro. O que o liga aos Verdes é sua identificação com os usineiros produtores de etanol. O setor apoia sua ida para o Meio Ambiente. Gussi também é integrante da Frente Parlamentar da Agricultura, onde puxou com Tereza Cristina o coro em favor de Bolsonaro.
Os militares que serviram na Amazônia ainda resistem à entrega do Meio Ambiente a ruralistas. Eles são o grosso da tropa que comanda a equipe de transição e seus expoentes são os generais da reserva Augusto Heleno, Hamilton Mourão, Oswaldo Ferreira, Aléssio Ribeiro Souto, entre outros. É uma turma que entrou na transição com muito cacife, mas vem perdendo terreno com o avanço do time político pilotado por Onyx Lorenzoni e para o clã Bolsonaro, que começou a exibir sua força com a escolha de Ernesto Araújo para o Itamaraty e tem dado seus pitacos em várias áreas.
Alguns militares ainda acreditam que possam evitar a ida para o Meio-Ambiente de alguém que simbolize o aumento da devastação na Amazônia.
A conferir.
Fonte: Os Divergentes