As abelhas podem ajudar na produtividade da soja? Vistos, em geral, como vítimas dos novos tempos da agricultura, esses insetos, quando bem tratados, poderiam até elevar a produtividade da oleaginosa no campo.
É claro que os produtores vão ter de fazer a parte deles, principalmente na maneira de ver e de lidar com as abelhas, com destaque no período de floração da soja, que dura de 15 a 25 dias.
O assunto é polêmico e contraditório. Por isso, Embrapa e Bayer uniram forças para buscar respostas sobre as relações entre insetos polinizadores e a cultura da soja. O projeto dura cinco anos.
A maioria dos estudos indica que a soja é autopolinizadora. Ou seja, polinizadores, com as abelhas, não teriam muito efeito sobre a planta.
Mas há estudos que indicam o contrário. Para colocar luz nessa polêmica, as duas empresas montaram esse projeto de pesquisa.
O resultado do trabalho pode indicar caminhos interessantes para a agricultura, segundo Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa Soja e especialista em insetos.
“Até há cinco ou seis anos não se dava importância para a abelha. Ela estava lá, pelo bem ou pelo mal”, diz o pesquisador. Mas, a partir de agora, procura-se entender melhor esses insetos.
Se a pesquisa indicar que as abelhas são importantes na polinização, elevando a produtividade, o produtor terá de encarar o manejo das lavouras de forma diferente.
Uma das maneiras de conservar os insetos será uma interrupção das pulverizações durante a floração da planta. Uma alta de 5% a 10% na produtividade poderia ter impacto de 2,5 a 5 sacas por hectare.
Essa preocupação com as abelhas é importante não só pelo lado do aumento de produtividade como pela da preservação ambiental.
Os países importadores de soja poderiam, em períodos de estoques elevados, utilizar esse argumento para impor barreiras ao principal produto de exportação do Brasil, avalia o pesquisador.
SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS
Um dos pilares da pesquisa é entender como a soja “conversa” com as abelhas. Plantas e insetos “conversam” por meio de substâncias voláteis.
A pesquisa quer entender como os compostos voláteis emitidos pela planta de soja exercem atratividade ou repelência sobre o polinizador.
Renato Luzzardi, gerente de alianças da Bayer para a América Latina, considera a a pesquisa “um trabalho único no mundo”.
“O Brasil é um país com agricultura tropical, e a pesquisa vai trazer respostas para o nosso ambiente”, diz.
Os resultados poderão auxiliar na melhora de proteção e na saúde dos polinizadores, recomendando ou não o uso de determinados produtos, acrescenta.
A pesquisa trará informações importantes para o desenvolvimento de novos produtos, segundo Luzzardi.
O programa prevê a captura desses voláteis do ar, por meio de sugadores ultrassensíveis. Os pesquisadores querem entender em que condições esses voláteis são emitidos pelas plantas e como são captados pelo polinizadores.
A pesquisa terá base em Londrina (PR) e no Estado de Mato Grosso, mas deverá estender-se por outras regiões.
É preciso verificar as condições dessa polinização em diversos climas, diz Luzzardi.
A pesquisa vai analisar também o comportamento das abelhas. Se trouxerem produtividade, quanto mais delas nas lavouras, melhor será para o produtor.
Gazzoni diz que é importante também estudar e semear, nos entornos das lavouras, plantas que atraiam os polinizadores.
O projeto prevê a produção de dois livros. O primeiro, a ser lançado no segundo semestre, será “Soja e Abelha”.
Fonte e Foto : Folha de São Paulo