POR ISABELLA MACEDO
Concebido como uma alternativa à proibição, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do financiamento empresarial de campanhas, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) será composto por 30% das chamadas emendas impositivas (repasse obrigatório de recursos orçamentários a parlamentares) reservadas às bancadas de deputados e senadores. Também abastecerá o fundo a compensação fiscal que o governo paga a emissoras de rádio e televisão pela exibição de propaganda partidária, que a matéria em questão (Projeto de Lei 8703/17) extingue.
A maioria favorável à criação do fundo se impôs e derruba, um a um, destaques apresentados para modificar o PL 8703/17, que foi concebido no Senado. O primeiro deles, de autoria do PHS, tinha como objetivo justamente excluir da matéria o artigo que formaliza a criação do fundo. Em meio a divergências não superadas, houve a obtenção de um compromisso, entre partidos e o governo, no sentido de que alguns trechos do projeto sejam vetados – por exemplo, critérios de repartição de recursos eleitorais entre as legendas. Tais elementos estão regulamentados no Projeto de Lei 8612/17, cujo texto-base já foi aprovado hoje.
A matéria em questão regulamenta o FEFC para bancar as campanhas eleitorais com dinheiro público. Mas esse PL apenas cria a regulamentação do fundo aprovado, e precisa ser complementado com a definição das fontes de custeio e os valores. A questão foi resolvida com o texto proveniente do Senado (PL 8703/17), com o montante previsto em cerca de R$ 1,7 bilhão para as próximas eleições.
Apesar de o texto do relator do PL 8612/17, Vicente Cândido (PT-SP), ter sido extensivamente debatido, os deputados tiveram de inverter a pauta no início da noite para dar consecução aos trabalhos, após a votação de três destaques apresentados por partidos. Na condução da sessão deliberativa, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu que a proposição fosse rapidamente votada em plenário, mas também reclamou das alterações que a matéria sofreu no transcurso dos debates. Além das divergências, o próprio conjunto de normas da Casa retardou o trâmite dos projetos.
“Combinamos votar um texto enxuto. Agora, aparece um texto com mais 17 páginas [em relação ao que foi apresentado na segunda-feira, 2/out]. Como alguém aqui vai saber o que está votando?”, questionou Maia.
Após os deputados aprovarem as regras de distribuição do fundo – o terceiro dos 21 destaques apresentados até aquele momento –, a sessão foi encerrada para dar vez a outra, como impõe o Regimento Interno da Câmara. Ato contínuo, Maia iniciou uma nova sessão para então votar o fundo proposto pelo Senado, aprovado na semana passada, na última terça-feira (26), em procedimento polêmico que também recorreu à votação simbólica.
Divergência
Entre os críticos do fundo público está o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), para quem o valor está muito elevado. Chico disse entender que a matéria não visa alterar o modelo de financiamento das campanhas, mas bancar com recursos públicos o mesmo sistema. “A gente quer denunciar aqui este ‘fundão’ por impróprio, criado por quem sempre viveu de dinheiro de empreiteira e de grandes financiadores. Defendemos o Fundo Partidário já existente, que pode ser ampliado em época de campanha, mas de maneira austera”, reclamou o parlamentar fluminense.
“Estamos acostumados a fazer campanha com muito dinheiro, mas dá para fazer campanha gastando sola de sapato, fazendo discurso e visitando as pessoas. Precisamos de novas formas que não um fundo que, eventualmente, vai tirar dinheiro necessário em outros lugares”, emendou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), também contrário ao fundo.
Vaiado ao defender o fundo na tribuna, Celso Pansera (PMDB-RJ) defendeu a aplicação da fonte de custeio e explicou que, por não ter o dinheiro que desejava para bancar sua campanha, precisa de recursos do eleitor contribuinte para voltar à Câmara em 2019. “Existe um custo financeiro para se ter um país democrático, para dar às pessoas a possibilidade de votar em todos aqueles que quiserem ser candidatos”, ponderou o peemedebista.
Outro defensor do fundo de financiamento, Henrique Fontana (PT-RS) explicou por que apoia sua aprovação. “É um valor moderado para garantir uma eleição efetivamente democrática”, disse o petista em plenário.
“Seu merda! Seu merda!”
A tentativa de votação simbólica produziu em empurrões e gritaria em plenário. Júlio Delgado se exaltou e gritava com deputados do PMDB, defensores do fundo bilionário, principalmente com Hildo Rocha (PMDB-MA). Mas foi com Carlos Marun (PMDB-MS), líder da tropa de choque do presidente Michel Temer na Câmara, que a situação quase saiu de controle.
Marun tentou acalmar Delgado, que continuou a gritar e avançar de dedo em riste e punhos cerrados em direção aos adversários. Foi aí que os dois se desentenderam e trocaram gritos, empurrões e ofensas. “Seu merda! Seu merda!”, vociferou Marun, enquanto colegas tentavam afastá-lo do colega da oposição.
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Depois de alguns minutos de confusão, com Maia tentando em vão controlar os ânimos, algumas lideranças passaram a defender a revisão do procedimento de votação. Com cartazes em mãos, deputados gesticularam em plenário exigindo votação nominal, deixando o presidente da Câmara sem alternativa.
Configurada a maioria em plenário, Maia anunciada o reinício da discussão e o requerimento foi votado nominalmente. O resultado da nova votação foi 223 votos a 209, rejeitando-se o destaque que anulava a criação do fundo de financiamento eleitoral com dinheiro público.
* Colaborou Fábio Góis
Fonte: Congresso em foco