Você tem amigos negacionistas que não conseguem entender o consenso científico sobre o aquecimento global? Seus problemas acabaram! Listamos dez fatos que mostram por que nenhum cientista honesto tem dúvida do papel da humanidade
DO OC – Um leitor preocupado com amigos que duvidam da mudança climática nos perguntou se existe em algum lugar uma lista de “dez provas” de que o aquecimento global é real. Elaboramos a lista abaixo para ajudá-lo a discutir com a turma na mesa do boteco.
Mas é preciso dar um aviso antes: a palavra “prova”, em ciência, costuma ser problemática. Com a exceção de teoremas matemáticos, passíveis de demonstração, verdades em ciência são sempre provisórias. Nem por isso elas deixam de ser explicações válidas do mundo natural – que, para todos os efeitos práticos, são verdades, boas o suficiente para fazer previsões e orientar nosso comportamento.
Não existem, por exemplo, dez “provas irrefutáveis” da teoria da evolução. Mas as evidências são tão fortes e tão conclusivas que toda a indústria farmacêutica opera com base nela, e salva milhões de vidas por ano. Quem nega a origem comum de todos os seres vivos pode ficar à vontade para parar de tomar remédios.
Sabemos que uma teoria científica é uma boa explicação do mundo quando ao longo do tempo ela ganha mais evidências em ser favor. A mudança climática pertence a essa categoria: sua física básica é conhecida desde os anos 1850 e previsões feitas com base nela vêm se confirmando ano a ano. Se fosse uma teoria furada, como as que os negacionistas costumam namorar, ele ficaria cada vez mais fraca até ser abandonada.
Não há “prova final” de que o aquecimento da Terra é causado por atividades humanas, mas as evidências são tão fortes e tão conclusivas que praticamente nenhum cientista sério que trabalhe com clima tem dúvidas de que precisamos imediatamente cortar emissões de carbono. Se alguém que se apresenta como cientista lhe disser o contrário, peça seu currículo e veja se ele publica pesquisas na área.
Sem mais delongas, portanto, aqui vão dez evidências conclusivas de que o clima está mudando e nós somos os responsáveis.
1 – O planeta está mais quente. Mesmo.
As temperaturas médias anuais não param de subir. Nós já esquentamos a Terra em 1,1oC em relação ao período antes da Revolução Industrial. Não parece, mas isso é muita coisa – e aconteceu muito rápido. E trata-se de uma média: no Brasil, por exemplo, o aquecimento foi de 1ºC em 50 anos. O ano de 2016 foi o mais quente da história, seguido por 2017, 2015 e 2014. De fato, 17 dos 18 anos mais quentes já vistos desde o início dos registros globais, em 1880, aconteceram neste século. O gráfico abaixo, compilado pelo site americano Climate Central, mostra que não houve um mês mais frio que o normal na Terra desde 1935. No palavrório usado desde 2007 pelo IPCC, o painel do clima das Nações Unidas, diz-se que o aquecimento do sistema climático é “inequívoco”.
2 – A variabilidade natural não explica esse aquecimento.
OK, dirá seu amigo negacionista. Não dá para discutir com o termômetro: o planeta está mesmo mais quente. Mas isso pode ser um fenômeno cíclico – afinal, o clima da Terra mudou no passado, e de forma muito mais radical, por causas inteiramente naturais, certo? Certo. Há variações nas manchas solares, na órbita da Terra e erupções vulcânicas que afetam o clima, certo? Certo. O problema é que essas variações naturais (linha azul no gráfico abaixo), sozinhas, não explicam o aquecimento observado (linha preta) no último século. Os modelos só casam com as medições quando a interferência humana (linha vermelha) é incluída na conta. (Em tempo: as linhas cinzentas verticais representam erupções vulcânicas, que esfriam temporariamente o planeta.)
3 – A atmosfera está esquentando exatamente do jeito que se esperaria se os humanos fossem a causa principal.
Não são apenas os termômetros que medem o aquecimento da superfície terrestre e dos mares: satélites também fazem isso há quase 40 anos. Na década de 1970, os primeiros modelos climáticos de computador previram que, se o CO2 emitido por atividades humanas estivesse aprisionando calor na baixa atmosfera (a troposfera), nós veríamos um aquecimento na troposfera e um resfriamento na alta atmosfera (a estratosfera). Se o Sol fosse responsável, as duas camadas esquentariam de maneira mais ou menos uniforme, já que a radiação refletida pela superfície do planeta subiria gradualmente para o espaço. E adivinhe: os satélites vêm detectando exatamente o padrão esperado de troposfera mais quente e estratosfera mais fria.
4 – O nível de gás carbônico na atmosfera é o maior em 3,5 milhões de anos. Você leu certo: milhões.
A quantidade de CO2 na atmosfera atingiu em 2016 a marca de 403 partes por milhão. Há evidências diretas, do estudo de ar aprisionado em gelo na Antártida, de que essa é a maior concentração em 800 mil anos. Mas há evidências indiretas de que a concentração é a maior em 3,5 milhões de anos – quando os ancestrais da humanidade ainda estavam descendo das árvores na África. Todos os dados mostram que o CO2 é uma espécie de botão de volume da temperatura: quanto mais ele cresce, mais o mundo esquenta. Há 125 mil anos, uma concentração de CO2 de 290 partes por milhão esteve ligada a um aquecimento global de 2oC e uma elevação de cerca de 10 metros no nível do mar.
5 – O gelo do Ártico está derretendo. TODO ele.
Todo mundo já viu as fotos dos ursos-polares desolados devido ao derretimento do gelo marinho do Ártico (aquela camada de mar permanentemente congelado que cobre o polo Norte). Desde o início das observações com satélites, no fim dos anos 1970, o Ártico tem perdido cada vez mais gelo marinho no verão e ganho cada vez menos gelo marinho no inverno. Beleza, mas é só o gelo marinho. Quem sabe há alguma variabilidade natural de longo prazo mudando a temperatura do mar? Sim, existe uma, a Oscilação Multidecadal do Atlântico. O problema é que TODO o gelo do Ártico está indo embora, de montanhas no Alasca às neves da Sibéria às geleiras da Groenlândia. Somente uma tendência de longo prazo de aquecimento global, auxiliada pela fuligem produzida pelos combustíveis fósseis do hemisfério Norte industrializado (que escurece o gelo e facilita seu derretimento), explica por que tantas massas de gelo sujeitas a influências diferentes resolveram derreter todas ao mesmo tempo.
6 – A Antártida está se esfacelando precisamente como previram os cientistas
Em 1978, o cientista americano John Mercer escreveu que um sinal de que a Terra haveria entrado em regime de aquecimento global perigoso seria o rompimento das plataformas de gelo (colossais línguas de gelo flutuantes) da Península Antártica, “começando na parte mais ao norte e se estendendo gradualmente para o sul”. Dito e feito: em 1989 a plataforma Wordie, ao norte, começou a se esfacelar; em 1995 foi a vez da Larsen A e da Prince Gustav, mais ao sul; em 2002, o rompimento espetacular da plataforma Larsen B, ao sul da Larsen A, foi acompanhado em tempo real; em 2003, a Jones; em 2008, a Wilkins. Em 2017, um iceberg do tamanho do DF se desprendeu da Larsen C, a última das plataformas Larsen que ainda resiste.
7 – Os mares estão subindo
No mundo inteiro, os oceanos já se elevaram cerca de 20 centímetros desde o fim do século 19. Isso acontece por causa do aquecimento da superfície do oceano, do derretimento de geleiras de montanha (como as dos Alpes e dos Andes) e, nas últimas duas décadas, por conta do derretimento da Groenlândia (cuja contribuição cresceu de 5% para 25% do total entre 1993 e 2014) e da Antártida.
8 – Os corais estão morrendo
Há dez anos, o painel do clima da ONU afirmou que uma das consequências do um aquecimento global no futuro seria a morte em grande escala de recifes de coral. Pois bem: o futuro chegou. Entre 2015 e 2016, uma pandemia de branqueamento (doença causada por água quente demais, que deixa o coral branco e pode matá-lo de fome) atingiu bancos de coral no mundo inteiro, matando mais de 20% da Grande Barreira de Coral, na Austrália. A frequência de surtos de branqueamento – que antes ocorriam apenas durante El Niños – quintuplicou entre 1980 e 2016, e hoje a temperatura do mar tropical durante fases La Niña, quando o oceano fica mais frio, é maior do que durante El Niños nos anos 1980.
9 – Os furacões estão mais fortes
Sim, furacões sempre existiram, e eles sempre atingem a região tropical do Atlântico na mesma época do ano. Não há indício de que haja mais furacões hoje em dia. Ocorre que, com mais vapor d’água na atmosfera devido a um oceano mais quente, os cientistas dizem que essas tempestades tendem a ficar mais intensas. De fato, é isso o que vem sendo observado na última década. Em 2017, tivemos a temporada de tormentas mais destrutiva do planeta. Um estudo de 2015 mostrou que, mesmo descontando o aumento da população e patrimônio em zonas de risco, hoje o prejuízo causado por furacões nos EUA é 12% maior do que em 1900. Outro estudo, publicado em dezembro do ano passado, mostrou que o aquecimento global triplicou a chance de o furacão Harvey causar a destruição que causou e potencializou as outras supertempestades de 2017, Irma e Maria.
10 – As ondas de calor estão mais frequentes
Escolha o seu inferno: o verão de 2003 no sul da Europa, onde 30 mil pessoas morreram? O de 2017, onde incêndios florestais arrasaram Portugal e Espanha? O outono do mesmo ano nos EUA, quando a Califórnia pegou fogo? Ou a seca de 2012 nos EUA? Ou os recordes históricos de calor quebrados em 2015 em Manaus, Brasília (duas vezes em uma mesma semana) e Belo Horizonte? Ou os 3.400 mortos sob temperaturas de 48oC no mesmo ano na Índia e no Paquistão? No mundo inteiro, o aquecimento global está multiplicando as chances de secas extremas e ondas de calor – aliás, como diz o nome, este é o principal efeito do fenômeno. Hoje 30% da população mundial está exposta a combinações potencialmente letais de calor e umidade. Em 2100, mesmo com reduções drásticas de emissões, essa cifra pode chegar a 48%. É cada vez maior o número de estudos ligando eventos extremos individuais ao aquecimento da Terra.
Fonte: Observatório do Clima